O que mais tarde tantas vezes senti, naquele tempo eu já adivinhava: que não se tem o direito de abrir um livro sem assumir o compromisso de ler todos. A cada frase começamos o mundo. Antes dos livros ele fora algo intacto, e talvez depois deles voltasse a ficar inteiro.
xxx
Descobrimos que não sabemos nosso papel, procuramos um espelho, queremos tirar a pintura e a falsidade, e sermos verdadeiros. Mas em algum lugar um pedaço de disfarce que tínhamos esquecido ainda se gruda em nós. Um traço de exagero permanece em nossas sobrancelhas, não percebemos que os cantos de nossa boca estão repuxados. E assim andamos por aí, um escárnio, metade de nós mesmos: nem reais nem atores.
Rainer Maria Rilke, Os Cadernos de Malte Laurids Brigge
Tuesday, November 30, 2010
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