Thursday, September 30, 2010

não sei, hein.

(...) sussurrava palavras que já disse mil vezes antes, para mil homens. Mas isso não importa. Antes de mim não houve homens e depois também não haverá. Não é sua culpa se não tem qualquer frase jamais usada para o que sente... é suficiente que sinta.

Henry Miller, Opus Pistorum

Melhor pensar bem e descobrir o real significado das palavras do que sair despejando tudo aleatoriamente, desperdiçando-as. Até aqui o livro se resume a pedofilia, incesto, estupro e adultério. Aguardo páginas melhores.

Tuesday, September 28, 2010

é.

Obras de arte são de uma solidão infinita, e nada pode passar tão longe de alcançá-las quanto a crítica. Apenas o amor pode compreendê-las, conservá-las e ser justo em relação a elas.

É bom ser solitário, pois a solidão é difícil; o fato de uma coisa ser difícil tem de ser mais um motivo para fazê-la.

Rainer Maria Hilke, Cartas a Um Jovem Poeta

Incrível ler essas cartas nesse período da minha vida. Esses dias ouví uma banda com o nome do poeta e pensei que deveria conhecer um pouco da obra dele e hoje, totalmente por acaso (ou não) fui em um sebo e o primeiro livro que encontro é esse. Grandioso. Vou seguir os conselhos.

Monday, September 27, 2010

i against i*

O homem mata por medo - e o medo tem tantas cabeças quanto a hidra: quantas mais cortamos, mais tantas nascerão. Uma eternidade não basta para eliminar os demônios que nos torturam. Quem pôs os demônios aqui? Cada um deve encontrar a sua própria resposta a essa pergunta. Que cada homem procure no próprio coração. Nem deus nem o diabo são responsáveis, e certamente não são responsáveis monstros de araque como Hitler, Mussolini, Stalin e outros mais. Também não são responsáveis bobagens como o catolicismo, o capitalismo ou o comunismo. Quem pôs os demônios em nossos corações para que nos torturassem? Uma boa pergunta, e se a única forma de descobrir é ir a Epidauro, então sugiro a todos que deixem seus afazeres de lado, imediatamente, e vão até lá.













Terei mais e mais amigos à medida em que o tempo avançar. Se eu tivesse dinheiro, poderia me tornar negligente, acreditando numa segurança que não existe, me agarrando a valores fúteis e ilusórios. Não tenho ilusões a respeito do futuro. Nos dias negros que nos aguardam, o dinheiro vai valer cada vez menos como proteção contra o mal e o sofrimento.

Destruíra todos os meus inimigos, um por um, mas sequer reconheci o maior de todos: eu mesmo.

Henry Miller, O Colosso de Marússia

*Bad Brains

imaginary war

o medo de morrer não se compara ao medo de que haja vida após a morte. não quero passar por isso de novo.

obs: estou de bom humor.

Friday, September 24, 2010

...

Costumava ficar horas e horas esticado ao sol, fazendo nada, pensando em nada. Manter a cabeça vazia é um feito e tanto, e um feito muito útil. Ficar calado durante o dia inteiro, não ler nenhum jornal, não ouvir rádio, não prestar atenção em nenhuma fofoca, estar inteiramente e completamente relaxado, inteira e completamente indiferente à sorte do mundo, é o melhor remédio que um homem pode encontrar. A aprendizagem dos livros vai se evaporando gradualmente; os problemas se derretem ou dissolvem; as ligações se cortam com toda a suavidade; pensar, quando a gente se dá ao luxo de pensar, torna-se algo extremamente primitivo; o corpo se transforma em novo e maravilhoso instrumento; você olha para as plantas e para os peixes com novos olhos; você fica imaginando o que será que as pessoas estão querendo com a sua atividade frenética; você sabe que há uma guerra acontecendo, mas não tem a mínima idéia dos motivos ou por que as pessoas se divertem matando-se umas às outras; você olha para um lugar como a Albânia (que me encarava constantemente) e diz de si para si, ontem era grega, hoje é italiana, amanhã poderá ser alemã ou japonesa, e você deixa que seja o que bem entender. Quando você está bem consigo mesmo, não importa a bandeira que esvoaça sobre sua cabeça, ou quem é dono de você, ou se você fala inglês ou algum dialeto desconhecido do norte da África. A falta de jornais, a falta e notícias sobre o que os homens estão fazendo nas diferentes partes do mundo para tornar a vida mais agradável ou mas desagradável é a maior felicidade. Se nós pudéssemos simplesmente eliminar os jornais, tenho certeza de que a humanidade faria um grande progresso. Os jornais alimentam mentiras, ódios, avareza, inveja, suspeita, medo, malícia. Nós não precisamos da verdade da forma como ela nos é servida nos jornais. Nós precisamos de paz e solidão e preguiça. Se nós pudéssemos entrar todos em greve e honestamente nos desligarmos do interesse no que o vizinho está fazendo, teríamos um novo tipo de vida. Nós podemos sobreviver sem telefones, rádios, jornais, sem máquinas de espécie alguma, sem fábricas, sem moinhos, sem minas, sem explosivos, sem navios de guerra, sem políticos, sem advogados, sem alimentos enlatados, sem gadjgets, até mesmo sem lâminas de barbear, ou celofane, ou cigarros, ou dinheiro. Eu sei que isso é um sonho. As pessoas só batalham por melhores condições de trabalho, melhores salários, melhores oportunidades de se tornar algo que não são.

Henry Miller, O Colosso de Marússia

Wednesday, September 22, 2010

fragmentos

Falava a respeito de si mesmo porque era a pessoa mais interessante que conhecia. Gostei muito dessa característica - eu próprio tenho um pouco dela.

xxx

Naquele momento eu me alegrei de ser livre, livre de inveja, de medo e malícia. Poderia ter passado tranquilamente de um sonho a outro, devendo nada, lamentando nada, desejando nada. Nunca estive mais certo de que vida e a morte são uma só e que nenhuma delas pode ser apreciada ou alcançada se a outra não estiver presente.

xxx

Mas ninguém consegue explicá-lo de forma satisfatória. Ninguém pode explicar o que é único. A gente pode descrever, louvar e adorar.

Henry Miller, O Colosso de Marússia

eu sei, não me controlo. tô sublinhando tudo, superando a má impressão que o Primavera Negra causou.

happiness is a warm gun

Deus, eu estava feliz. Mas pela primeira vez na vida estava feliz com a plena consciência de estar feliz. É bom estar satisfeito; é um pouco melhor estar feliz e saber disso; mas compreender que você está feliz e saber por que e como, de que jeito, por que concatenação de acontecimentos ou circunstâncias, e ainda assim estar feliz, instintivamente e racionalmente, bem - isso é muito mais do que a felicidade em si mesma, é o delírio, e se você tem um pingo de bom senso, deve se matar ali, no ato, e acabar com tudo.

Henry Miller, O Colosso de Marússia

Tuesday, September 21, 2010

não dou mesmo.

- Não se iluda com as minhas palavras - respondeu o abade. - Limito-me a expor as diversas teses a respeito. Não dê importância excessiva às interpretações. A escritura é imutável e as interpretações frequentemente não são mais que a expressão do desespero que os intérpretes sentem ante isso.

Kafka, O Processo


Friday, September 17, 2010

all? no, ALL!















ah, eu não estou muito preocupada com esse tipo de coisa no momento, mas ouvir Billie Holiday na madrugada torna tudo mais agradável e eu me sinto à vontade para encaixar um pouco de romantismo aqui. não sei se a letra é dela mesmo, mas a voz é, então tá valendo.

All or nothing at all
Half love never appealed to me
If your heart never could yield to me
Then I'd rather have nothing at all

coisa linda.

Wednesday, September 15, 2010

let my own lack of a voice be heard*

Entreguei-me ao ópio do sonho a fim de enfrentar a hediondez de uma vida de que eu não participava.

Henry Miller, Primavera Negra

i am the ghost of all my dreams
to me it's all pretend
i pretend i'm alive
or just not dead

X - Because I Do

* trecho do Burning Man em Waking Life.

Monday, September 13, 2010

box

- Ele está perdendo o juízo - diz Jill.
- Errado de novo, diz Jabber. - Eu acabo de encontrar meu juízo, só que é uma espécie de juízo diferente daquela que você imaginou. Você pensa que um poema precisa ter capa em volta. No momento em que você escreve uma coisa o poema cessa. O poema é o presente que você não pode definir. Você o vive.

Henry Miller, Primavera Negra

I can't say it like I sing it.
And I can't sing it like I think it.
And I can't think it like I feel it.
And I don't feel a thing.

Pedro the Lion - The Fleecing

Friday, September 10, 2010

...

Essa porra é um campo minado
Quantas vezes eu pensei em me jogar daqui,
Mas, aí, minha área é tudo o que eu tenho
A minha vida é aqui e eu não preciso sair
É muito fácil fugir, mas eu não vou
Não vou trair quem eu fui, quem eu sou
Eu gosto de onde eu tô e de onde eu vim.

Racionais MC's – Fórmula Mágica da Paz

Wednesday, September 08, 2010

the bridge














...na ponte do Brooklyn um homem está parado em agonia, esperando para saltar, esperando para escrever um poema ou esperando que o sangue deixe seus vasos porque se avançar mais um passo a dor de seu amor o matará.

Henry Miller, Primavera Negra

Aproveitando a dúvida entre pular ou não, indico o documentário the bridge. Achei um pouco repetitivo, mas o tema abordado é interessante (ou ao menos curioso), então compensa qualquer falha de roteiro ou produção.

Tuesday, September 07, 2010

ah...

Quando cada coisa é vivida até o fim não há morte e não há remorsos, nem há uma primavera falsa; cada momento vivido abre um horizonte maior e mais largo do qual não há como fugir senão vivendo.

Henry Miller, Primavera Negra

Sunday, September 05, 2010

estilo guerra fria

Também é verdade que tu nunca bateste em mim de fato. Porém os gritos, o vermelhão do teu rosto, o gesto de tirar a cinta e deixá-la pronta no espaldar da cadeira eram quase piores para mim. É como quando alguém será enforcado. Se ele realmente é enforcado, morre e acaba tudo. Mas se tem de presenciar todos os preparativos para o enforcamento e só fica sabendo do indulto quando o laço pende diante de seu rosto, nesse caso ele talvez venha a sofrer a vida inteira por causa disso.

Kafka, Carta ao Pai

Friday, September 03, 2010

...

...o enredo se apresentava mais complexo do que na imaginação de qualquer dramaturgo. Mas o acaso também é um autor genial!

Honoré de Balzac, A Menina dos Olhos de Ouro

Wednesday, September 01, 2010

honey peeps

Para ela a nossa separação tinha sido um ponto final. "Para sempre", dissera. Assim mesmo, durante meus passeios noturnos, pensando nela, passando em frente à casa onde morara quando criança, parecia-me inacreditável que ela tivesse conseguido afastar-me para sempre do seu coração e dos seus pensamentos... Nós devíamos ter aceito o conselho da moça gorduchinha e nos casado. Teria sido a solução perfeita. Se eu pudesse adivinhar onde ela estava, teria tomado um trem e partido ao seu encontro. Ainda estava ouvindo aqueles soluços na rua escura. Como poderia eu saber se Chirstine não estaria soluçando também - naquele mesmo instante, em algum lugar remoto?

Henry Miller, Dias de Clichy & Uma Noite em Newhaven