Sunday, June 27, 2010

não sei.

"Quando é que a pessoa deve dispor-se a agir? O que constitui um ato? E deixar de agir, algumas vezes, não será uma forma mais elevada de ação?"

Henry Miller, Big Sur e as Laranjas de Hieronymus Bosch


Thursday, June 24, 2010

quando a cidade dorme


















Já terminei o livro, mas achei nos rascunhos do meu gmail esse trecho que ainda não tinha postado, então lá vai:

"Viu que a luta da vida era interminável, cansativa, dolorosa, que nada era feito rapidamente, sem esforço, que precisava passar por mil dobras, revisões, modelagens, acréscimos, remoções, enxertos, cortes, correções, alisamentos, reconstruções, reconsiderações, pregadas, colagens, raspagens, marteladas, levantamentos, conexões - todas as coisas incompletas hesitantes e incertas do esforço humano. Elas continuavam para sempre e estavam para sempre incompletas, longe da perfeição, refinamento ou polimento, cheias de memórias terríveis de fracassos e medos de fracasso, ainda assim, do seu jeito, de algum modo nobre, completas e reluzentes no final. Isso ele podia sentir mesmo da casa velha onde eles moravam, com suas paredes e pisos solidamente construídos que se mantinham juntos como rocha: algum homem, possivelmente um homem raivoso e pessimista, tinha construído a casa muito tempo atrás, mas a casa permanecia de pé, e sua raiva e pessimismo e suores irritados de trabalho foram esquecidos; a casa permanecia de pé, e outros homens viviam nela e ficavam muito bem abrigados nela."

Jack Kerouac, Cidade Pequena, Cidade Grande


















difícil não colocar fotos dele por aqui. jack e seu olhar penetrante. cada imagem me impressiona mais. ah, se eu pudesse ter visto ao vivo... no geral olhos claros tendem a dizer menos do que olhos escuros, mas ele é exceção. não sei se pelo tamanho, formato, ou simplesmente pela loucura toda. e ta aí uma coisa que eu me orgulho muito de ter: olhos expressivos. sempre dizem que eu falo com eles, então creio que seja verdade. olhos pequenos, mortos, apáticos, vazios, por favor, me poupem da chatisse de encará-los. prefiro os que assustam de tanta expressividade. melhor me sentir desafiada por um olhar confiante do que ficar entediada com um de peixe-morto."E é através dos olhos da alma que o paraíso é visionado. Se há falhas em seu paraíso, abra mais janelas!"

hey coffee eyes
you got me coughin' up my cookie heart

Sunday, June 20, 2010

sal paradise

i don't know anything but the word is getting around, 
there's trouble in paradise, your heart is gonna pay the price


Quando eu digo que nada é por acaso, falo sério. Ontem encontrei uma pessoa que eu não sabia que conhecia (amnésia alcoólica) e o comentário foi "eu insistia pra saber o teu nome e tu só dizia PARADISE, PARADISE". Acordo hoje e começo a ler meu guru, Henry Miller. Eis que me deparo com isso:

"Como é elucidativa essa atitude quanto à deplorável resignação à qual sucumbem homens e mulheres! Claro que todos percebem, a certa altura, ao longo do caminho, que poderiam levar uma vida muito melhor do que aquela que escolheram. O que impede isso, em geral, é o medo dos sacrifícios necessários. (Mesmo abandonar as correntes que os prendem parece um sacrifício.) Mas todo mundo sabe que nada é realizado sem sacrifício.
O anseio por um paraíso, na terra ou no além, quase parou de existir. Em vez de idée-force, tornou-se idée-fixe. De mito potente, degenerou em tabu. Os homens sacrificam suas vidas para tornar o mundo melhor - seja lá o que entendam por isso -, mas não movem uma palha para alcançar o paraíso. Tampouco lutam para criar um pouquinho de paraíso no inferno onde se encontram. É tão mais fácil, e mais sangrento, fazer uma revolução, o que significa, em termos simples, estabelecer outro status quo, só que diferente. Se o paraíso fosse realizável - está é a réplica clássica! -, não seria mais paraíso.
O que se poderá dizer a um homem que insiste em construir sua própria prisão?
Há um tipo de indivíduo que, após encontrar o que ele considera um paraíso, começa a botar defeitos nele. No final, o paraíso desse homem se torna ainda pior do que o inferno do qual ele fugiu.
Sem dúvidas, o paraíso, seja lá qual for, tem defeitos (defeitos paradisíacos, podemos dizer assim). Se não tivesse, seria incapaz de atrair os corações dos homens ou dos anjos.
As janelas da alma são infinitas, dizem-nos. E é através dos olhos da alma que o paraíso é visionado. Se há falhas em seu paraíso, abra mais janelas! A visão é, inteiramente, uma faculdade criativa: usa o corpo e a mente como o navegador usa seus instrumentos. Aberta e alerta, pouco importa se alguém descobre um suposto atalho para as Índias ou se descobre um novo mundo. Tudo pede para ser descoberto, não por acaso, mas intuitivamente. Procurando intuitivamente, o destino de uma pessoa jamais está num além do tempo ou do espaço, mas sempre aqui e agora. Se estamos sempre chegando e partindo, é também verdade que estamos eternamente ancorados. Nosso destino não é nunca um lugar, mas sim uma nova maneira de olhar para as coisas. E isso significa que não há limites para a visão. Da mesma forma, não há limites para o paraíso. Qualquer paraíso digno desse nome pode sustentar todas as falhas da criação e continuar com sua grandeza, impoluto."

Henry Miller, Big Sur e as Laranjas de Hieronymus Bosch

Aproveito o que foi dito sobre estar sempre chegando e partindo e repito um trecho do genial Waking Life que já postei por aqui: The sea refuses no river. The idea is to remain in a state of constant departure while always arriving. It saves on introductions and goodbyes. The ride does not require explanation - just occupance.

Friday, June 18, 2010

OH, YES

there are worse things than
being alone
but it often takes decades
to realize this
and most often
when you do
it's too late
and there's nothing worse
than
too late. 

Charles Bukowski

first step

"Às vezes pensava em como era tênue a linha traçada dentro dele entre amor ou indiferença, devoção ou aversão, preocupação ou negligência, e finalmente - entre a alegria viva e a fúria criminosa. Podia rir e se divertir, e de repente sair e quebrar algo com a violência de um louco. Às vezes pensava sobre isso, mas na maior parte do tempo não estava nem aí para pensar nisso. Lembrava de se sentir assim antes, especialmente quando tinha seus vinte anos, cheio de atrevimento louco, fúria bêbada suicida, e agora estava de volta, mas não havia mais alegria, de algum modo não havia mais beleza naquilo, nem a admiração e o prazer de um jovem naquilo, e lhe parecia que alguma coisa tinha terminado."

Jack Kerouac, Cidade Pequena, Cidade Grande
















Se ele me conhecesse não teria me descrito tão bem. Com o final próximo, a beleza do livro só aumenta.

Tuesday, June 15, 2010

I live upstairs from you

"Jeepo soltou um grito alegre e delirante. De repente Francis percebeu, com um horror secreto, que a loucura era a única chave para a felicidade ininterrupta e desimpedida; soube disso em um lampejo."

Jack Kerouac, Cidade Pequena, Cidade Grande















Eu adoro Lemonheads. Defino, mesmo nos discos mais ogros (não chegam a ser, mas não consegui achar uma palavra melhor, então paciência), como uma banda suave. Não importa se são escrotos ao vivo e se deliraram em uma música psicodélica de dez minutos. Lamentável que artistas desprovidos de talento tenham gravado versões absurdamente toscas de Luka e eternizado em trilhas de novelas uma melodia tão bonitinha de forma tão cafona. Para uma vida COM SENTIDO, acho que todo mundo devia ter, pelo menos, um disco deles na sua coleção (mesmo que virtual).

If you hear something late at night
Some kind of trouble, some kind of fight
Just don't ask me what it was

Sunday, June 13, 2010

divido o que temo

I can't think with all this noise
they're playing love songs on your radio tonight
I don't get those songs on mine
you keep fucking up my life 

vontade de reler big sur, mas preciso terminar cidade pequena, cidade grande.
onde estão as pessoas que vivem como cody pomeray?
eu seria sal paradise e você minha rota 66.

Tuesday, June 01, 2010

tanto faz

se é na voz da billie holiday, nina simone ou chan marshall; deguste.

Hush now, don't explain
You're the cause of all my trouble and pain
Unless you're mad
Don't explain

My love, my love, my love
Don't explain
There is nothing within me now to gain
You know that I love you
Look at what loving has done
All my thoughts were real
And so sincere
I'm so completely yours

You know I hear folks cha-cha-cha-chatter
And I know you cheat
Right or wrong, that don't matter
You're here with me
Sit down, have a seat
It's your time to feel the pain
It's your time to weep
Don't explain

Hush now, don't explain
There is nothing within me now to gain
I'm gonna skip it instead
Don't explain
Don't explain

















fotinho tirada por mim. cat power @ opinião - porto alegre, 20.05.2010