Wednesday, March 31, 2010

para hoje: bad brains

enquanto eu não aprendo a dançar igual ao HR, fico aqui me perguntando como o Black Dots pode ser tão bom e despejo essa bela canção:

don't care what they may say
we got that attitude

don't care what you may do
we got that attitude

hey we got that P.M.A.


(positive mental attitude)

Tuesday, March 30, 2010

coração partido.

Que a maioria das pessoas é escrota e não valem nada todo mundo sabe. Como sempre, fui brindada com uma prova disso. Desci do trem e saí andando pela estação, onde sempre tem uns vira-latas circulando livremente. Então avisto uma cadela toda feliz indo em direção a uma mulher sentada com seus 20 anos, pele escura, cara fechada e um penteado que jamais entenderei. Não, ela não estava comendo nada, caso achem que o bichinho foi encomodar. A cã nem encostou na bagaceira, apenas chegou perto balançando o rabo e a ex-escrava a enxotou com uma agressividade que, quem visse, pensaria que ela tinha sido avisada que voltaria pra senzala a mando de um cão. Bom, uma pena que as pessoas sejam tão ignorantes a ponto de descarregar seus problemas em um animal indefeso que só buscava um pouco de atenção. Fui até a filha da puta com o meu olhar de desprezo total e acariciei a bichana que, instantaneamente, começou a pular e na maior alegria me seguiu por 5 quadras até em casa. Caminhei sem olhar pra trás para não ter nenhum contato que motivasse a cachorrinha, mas ela já estava decidida a morar comigo. Cheguei no prédio com o coração na mão, querendo morrer por ter que deixar ela ali, mais uma vez rejeitada. Se eu morasse em uma casa, ou mesmo num apartamento de tamanho normal, não pensaria duas vezes, adotava mais uma, mas na minha situação é impossível. Bom, ela ficou sentadinha na escada do prédio e eu entrei. Não esquecerei aquele olhar.

E não me torrem com o papo de racismo. Se fosse uma polaca eu chamaria de nazista ou de qualquer outra porra que a rotulasse. Honre sua cor (eu diria CARÁTER, mas como as pessoas curtem mesmo é se vitimizar por coisas menores, vamos com a maré!), não jogue lixo no chão e não maltrate os animais, então te libertarei.

Saturday, March 27, 2010

ache

If you hear this song a hundred times it still won't be enough.



Friday, March 26, 2010

moonshiner

"É muita coisa, na verdade nesse exato instante ele está nos contando sobre o trabalho no circo - E ainda por cima o velho Cody está logo adiante com as mil histórias DELE - Todo mundo concorda que é tudo grande demais para a gente acompanhar, que estamos cercados pela vida, que nunca vamos entender, então a gente se concentra em tomar uísque do gargalo e quando a garrafa esvazia eu saio correndo do carro e compro outro, ponto."


Jack Kerouac, Big Sur

Thursday, March 25, 2010

telltale signs

"As estradas ligaram tudo tão maravilhosamente que até o vazio pode ser transportado com facilidade."

Henry Miller, Sexus

Wednesday, March 24, 2010

tudo faz sentido.

Acordei cedo pra conseguir terminar de ler a Pedagogia da Autonomia do Paulo Freire, totalmente contrariada, lamentando cada segundo por ter que fazer esse tipo de cadeira na faculdade, mesmo com a certeza absoluta de que jamais lecionarei. Bom, o fato é, dentro da desgraça achei algo interessante. Me deparo com essa afirmação:

"É preciso que ele saiba que, se fisicamente pode golpear-me e seus golpes me causam dor, não tem, contudo, a força suficiente para dobrar-me a seu arbítrio."

Lembrei de, não menos importante, MASS NERDER:

See I got these glasses, so they kick my ass
But I'll kick their asses when I get to class

I got these glasses, so I can't wear shades
But I'll kick their asses, I'll get good grades

Claro que o foco não é o mesmo, mas existe um parentesco. Lembrando que no final da letra ele canta "we must read", que, o bom entendedor sabe, foi inspirado em WE MUST BLEED do Germs. Lindo!

Sem mais.

Saturday, March 20, 2010

late.

"A conversa é apenas um pretexto para outras formas mais sutis de comunicação. Quando essas são inoperantes, a fala é uma coisa morta. Se duas pessoas estão interessadas em se comunicar, a conversa em si não importa, por mais espantosa que seja. As pessoas que insistem na clareza e na lógica geralmente não conseguem se fazer entender. Estão sempre procurando um transmissor mais perfeito, iludidos pela suposição de que a mente é o único instrumento para a troca de pensamentos. Quando realmente começamos a falar, nós nos libertamos. As palavras são lançadas desordenadamente ao ar, não contadas como vinténs. Ninguém liga para erros gramaticais ou fatuais, contradições, mentiras e assim por diante. A gente fala. Se falamos com uma pessoa que sabe ouvir, ela entende perfeitamente, ainda que as palavras não tenham sentido. Quando esse tipo de conversação se desenvolve, tem lugar um casamento, quer esteja falando com um homem, quer se fale com uma mulher. Os homens, falando com outros homens, têm tanta necessidade desse tipo de casamento quanto as mulheres, em conversa com outras mulheres. Os casais raramente gozam desse tipo de coversa, por motivos que são óbvios demais.
A conversação, a verdadeira conversação, me parece, é uma das manifestações mais expressivas da fome que o homem sente pelo casamento ilimitado. Pessoas sensíveis, pessoas que sentem, querem se unir de uma maneira mais profunda, mais sutil, mais durável do que é permitido pelos costumes e pelas convenções. Quero dizer, segundo maneiras além dos sonhos dos utopistas socias e políticos. A fraternidade entre os homens, caso chegasse a se concretizar um dia, é apenas o jardim de infância do drama das relações humanas. Quando o homem começa a se permitir a plena expressão, quando é capaz de se expressar sem temer o ridículo, o ostracismo ou a perseguição, a primeira coisa que faz é extravazar o amor."

Henry Miller, Sexus

Me sinto de volta à cadeira de análise do discurso. Pena que agora já não cabe mais citar Cap'n Jazz como exemplo. Poder eu posso, mas... calarei. Assinaria esse contrato? Já o fez.

Sunday, March 14, 2010

Now I need a guillotine

To get you off my mind. Cheguei no extremo onde eu não sei se o sofrimento é inevitável ou se já me acostumei tanto com ele que não vivo mais sem.

A '63, 10,000 miles. What was I thinking?
I drove myself insane. No small getaway
Asleep with both hands on the wheel
White knuckle weekend
Chewing ephedrine
Going to an unnamed end
Unending...
(...)






seria bom, se fosse possível.

"Ninguém pode se sentir melhor do que o homem que é completamente logrado. A inteligência poderá ser um obstáculo, mas a confiança completa, levada até a idiotice, a entrega sem reservas, essa é uma das alegrias supremas da vida."

Henry Miller, Sexus

translocation

"Não pensava no assunto. As pessoas chegavam e saíam, objetos apareciam e desapareciam. Eu estava na corrente, como os outros, e era tudo natural, ainda que inexplicável. Começava a ler, a ler em demasia. Estava voltando-me para dentro de mim, como as flores que se fecham à noite."

Henry Miller, Sexus

Tuesday, March 09, 2010

entendo.

"Seu nariz é muito sensível, sr. Miller. O senhor é um esteta."

Sexus

Monday, March 08, 2010

carta de arquivo

time is the great healer (há controvérsias). vi meu vizinho fechando a porta quando saí no corredor agora há pouco. seria algo totalmente insignificante, a não ser pelo fato de que senti um cheiro que me congelou por dentro, fiquei imóvel por uma fração de segundo (poderia ter durado a eternidade e eu não notaria) e então percebi o golpe. era o cheiro da tua casa pela manhã. jamais pensei que isso pudesse ser reconhecido, repetido, notado ou reproduzido, mas ali estava eu com aquele sentimento, ou melhor, vários deles se atropelando dentro de mim. quando eu entrava na tua sala, era apenas mais uma coisa boba do dia-a-dia, agora com o tempo e a distância, se transformou em algo único, transborando de nostalgia, assim como todo o resto. mas o que resta? ontem senti teu perfume na rua, olhei em volta e nada. alívio e decepção. é tão forte que eu posso senti-lo mentalmente, mesmo que não haja uma mísera particula dele no ambiente. está preso a mim. eventualmente acordo com ele na cabeça, provavelmente para complementar os sonhos frequentes. nada basta, sempre é preciso sofrer mais um pouco! por mais que eu queira e precise fugir disso, essas pequenas coisas das quais eu não tenho controle algum me destróem, corróem, me deixam com o coração na mão. nas tuas.

Não sei se você já me esqueceu
Mas eu ainda me lembro de você.

Tava faltando um romantismo aqui. Agora tem. Libertem.

Saturday, March 06, 2010

o fim e o começo.

Terminei as Visões de Cody e quero destacar que, no final, rolam explicações e comentários feitos pelo Allen Ginsberg sobre as gravações e lugares citados. Isso somou bastante ao livro, achei muito legal o jeito dele colocar as coisas e também defender a obra. Ainda tenho um trecho anotado para postar aqui, mas como comecei a ler Sexus e já estou completamente enloquecida amando cada linha, vou deixá-lo pra depois. Fato engraçado foi que, há algumas noites, antes de dormir, eu pensei "que saudade de ler Henry Miller" (devaneio meigo, ok?). Então, no dia seguinte, seguindo minha rotina marota, saí visando comprar algo pro almoço e acabei entrando num sebo (vou ali de tempo em tempo pra ver se tem alguma novidade) e quando já estava quase desistindo de achar algo, avisto, rente ao chão, na última (ou poderia ser chamada de primeira) prateleira... aquela capa laranja vulgar, onde os peitos na foto e as letras enormes em amarelo berrando "SEXUS" brigam para ver quem chama mais a atenção. Paguei os 7 reais, tinha apenas 10. Logo, não pude comprar comida e voltei pra casa com aquela sensação de dever cumprido (entenda se quiser). Lamentei não ter encontrado-o da outra vez, se tivesse eu poderia ter lido na ordem certa (como já devem ter notado - ou não - pelos posts, eu li Plexus ano passado).


"Ela não está no salão. Poderá estar deitada na cama lendo um livro, poderá estar fazendo amor com um campeão de boxe, ou poderá estar correndo como louca através de um campo de restolho, um sapato num pé, o outro descalço, um homem chamado Espiga de Milho perseguindo-a furiosamente. Onde quer que ela esteja, eu estou na escuridão completa; sua ausência me anula."

xxx

"Há trinta anos venho carregando a cruz de ferro de ignominiosa servidão, servindo mas não acreditando, trabalhando mas não recebendo salário, repousando mas não conhecendo paz nenhuma. Porque eu deveria acreditar que tudo mudará subitamente, bastando apenas possuí-la, apenas amando e sendo amado?
Nada mudará a não ser eu mesmo."


Henry Miller, Sexus

dead men don't lie

"Curto você porque juntos a gente curte estar perdido e o fato de que é claro que nunca vamos conquistar nada que não seja a morte (...)"


Kerouac, Visões de Cody

Friday, March 05, 2010

de neal cassady

Monday, March 01, 2010

no pântano a pesca seria mais triste.

"Beijamo-nos ainda uma vez, na escada, e, quando puxei o cordão, a porteira murmurou qualquer coisa atrás da sua porta. Tornei a subir, e pela janela aberta vi Brett, que se dirigia para uma grande limusine parada junto à calçada, sob a lâmpada em arco. Entrou e o carro partiu. Sobre a mesa havia um copo vazio e outro pela metade, de branda e soda. Levei os dois para a cozinha e esvaziei na pia o copo ainda pelo meio. Apaguei o gás da sala de jantar. Sentei-me na cama, atirei longe os chinelos com um movimento dos pés, e deitei-me. Era aquela a Brett por que eu havia chorado. E agora via na imaginação, subindo a rua, entrando no automóvel, assim como vira, na realidade; naturalmente, não tardei a sentir-me de novo como se estivesse no inferno. Durante o dia, nada mais fácil do que mostrar que não se dá importância, mas, à noite, é diferente."

xxx

" - Como é possível ser tão idiota? Por que não foi com alguém de seu meio, ou com você ou comigo? - acrescentou instantaneamente. - Sim, comigo?
Olhou atentamente para o espelho, ensaboando outra vez ambas as faces:
Tenho um rosto honesto, um rosto com o qual toda mulher estará em segurança, um rosto que devia ser projetado em todas as telas do país. Toda mulher, ao descer do altar, devia receber uma reprodução dessa cabeça. As mães deviam falar desse rosto às suas filhas. Meu filho - apontou com a gilete para mim -, vai para o oeste com esse rosto e prospera, ao mesmo tempo que teu país."


Hemingway, O Sol Também se Levanta