Na falta de algo novo, resolvi reler Sonhos de Bunker Hill, do John Fante. Engraçado como as coisas mudam. Em 2006 eu li e achei incrível. Hoje achei um pouco superficial, talvez até meio bobo. Não sei se porque a linguagem é muito acessível, ou porque é curtinho - terminei em dois dias - o fato é que a impressão foi outra. Jamas falarei mal, afinal, na época dei muitas risadas e admiro o autor. Nem só de drama ou rebeldia se faz a literatura. Resolvi eternizar aqui o final que me agradou (e ainda agrada) profundamente:
Me estirei na cama e dormi. Era crepúsculo quando acordei e acendi a luz. Me sentia melhor, não estava mais cansado. Fui até a máquina de escrever e sentei em frente. Meu pensamento era escrever uma frase, uma única frase perfeita. Se conseguisse escrever uma frase boa, conseguiria escrever duas, e se conseguisse escrever duas, conseguiria escrever três, e se conseguisse escrever três, conseguiria escrever para sempre. Mas, supondo que eu falhasse? Supondo que eu tivesse perdido todo o meu belo talento? Supondo que ele tivesse se consumido para sempre no fogo de Biff Newhouse ao esmurrar meu nariz ou com a morte de Helen Brownell? O que aconteceria comigo? Iria até Abe Marx e me tornaria ajudante de garçom de novo? Eu tinha dezessete dólares e medo de escrever. Sentei ereto em frente à máquina de escrever e soprei meus dedos. Por favor, Deus, por favor, Knut Hamsun, não me abandonem agora. Comecei a escrever e escrevi:
"É chegada a hora", disse o Leão-Marinho,
"De falar de muitas coisas:
De sapatos - e navios - e cera para lacre -
De repolhos - e reis -"
Olhei para aquilo e umedeci meus lábios. Não era meu, mas, com os diabos, um homem tem que começar por algum lugar.
Wednesday, December 01, 2010
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