Saturday, March 20, 2010

late.

"A conversa é apenas um pretexto para outras formas mais sutis de comunicação. Quando essas são inoperantes, a fala é uma coisa morta. Se duas pessoas estão interessadas em se comunicar, a conversa em si não importa, por mais espantosa que seja. As pessoas que insistem na clareza e na lógica geralmente não conseguem se fazer entender. Estão sempre procurando um transmissor mais perfeito, iludidos pela suposição de que a mente é o único instrumento para a troca de pensamentos. Quando realmente começamos a falar, nós nos libertamos. As palavras são lançadas desordenadamente ao ar, não contadas como vinténs. Ninguém liga para erros gramaticais ou fatuais, contradições, mentiras e assim por diante. A gente fala. Se falamos com uma pessoa que sabe ouvir, ela entende perfeitamente, ainda que as palavras não tenham sentido. Quando esse tipo de conversação se desenvolve, tem lugar um casamento, quer esteja falando com um homem, quer se fale com uma mulher. Os homens, falando com outros homens, têm tanta necessidade desse tipo de casamento quanto as mulheres, em conversa com outras mulheres. Os casais raramente gozam desse tipo de coversa, por motivos que são óbvios demais.
A conversação, a verdadeira conversação, me parece, é uma das manifestações mais expressivas da fome que o homem sente pelo casamento ilimitado. Pessoas sensíveis, pessoas que sentem, querem se unir de uma maneira mais profunda, mais sutil, mais durável do que é permitido pelos costumes e pelas convenções. Quero dizer, segundo maneiras além dos sonhos dos utopistas socias e políticos. A fraternidade entre os homens, caso chegasse a se concretizar um dia, é apenas o jardim de infância do drama das relações humanas. Quando o homem começa a se permitir a plena expressão, quando é capaz de se expressar sem temer o ridículo, o ostracismo ou a perseguição, a primeira coisa que faz é extravazar o amor."

Henry Miller, Sexus

Me sinto de volta à cadeira de análise do discurso. Pena que agora já não cabe mais citar Cap'n Jazz como exemplo. Poder eu posso, mas... calarei. Assinaria esse contrato? Já o fez.

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