Wednesday, January 19, 2011

a verdade é a verdade

Toda nossa vida parece não passar de um esforço frenético para fugir do que está constantemente ao nosso alcance. Isso que é o próprio avesso do miraculoso é apenas medo. O homem não possui outro inimigo real além deste que carrega dentro de si.

Ele toldava a questão real com uma cortina de fumaça produzida pelas palavras; lutava como um louco para cegar a própria visão do caminho que estava predestinado a seguir. O mundo tem sido ao mesmo tempo bondoso e cruel com ele, na medida da dualidade e do antagonismo que Balzac gerava. Aceitou-o como um dos maiores gênios humanos; e parmaneceu ignorante do objetivo que colimava. Ele queria fama, glória, reconhecimento: recebeu-os. Queria riqueza, bens, poder sobre os homens: obteve tudo isso. Queria criar um mundo próprio: criou-o. Mas a verdadeira vida que secretamente desejava foi-lhe negada - porque não se pode ter um pé num mundo e o outro em outro mundo. Ele não aprendera a lição da Renúncia: renunciara ao mundo, não para abdicar, mas para conquistar. Nos seus momentos de iluminação percebia a verdade, mas nunca foi capaz de viver de acordo com a sua visão. No caso dele, conforme permite Seraphita dizer com ofuscante clareza, foi realmente uma luz que mata o homem que não está preparado para recebê-la.

Henry Miller, A Sabedoria do Coração

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