Essa condição de sublime indiferença é um desenvolvimento lógico da vida egocêntrica. Vivi integralmente o problema social morrendo: o verdadeiro problema não é se dar bem com os vizinhos ou contribuir para o progresso do país, mas descobrir o próprio destino, procurar viver em harmonia com o ritmo bem centrado do cosmos. Ser capaz de usar a palavra cosmos com ousadia, usar a palavra alma, tratar de coisas "espirituais" - e esquivar-se de definições, álibis, provas, deveres. O paraíso está em toda a parte e toda estrada nos leva lá se seguirmos por ela tempo suficiente. Só pode avançar caminhando para trás e depois para o lado e depois subindo e depois descendo. Não há progresso: há um movimento, um deslocamento perpétuo que é circular, espiral, infindo. Cada homem tem o seu destino: o único imperativo é seguí-lo, aceitá-lo, a despeito de onde o leve.
Ninguém que se entregue voluntariamente à experiência pode se afogar no oceano da realidade. O pouco progresso que exista na vida não é fruto da adaptação mas da ousadia, da obediência ao impulso cego. "Nenhuma ousadia é fatal", disse René Crevel, uma frase que nunca hei de esquecer.
Henry Miller, A Sabedoria do Coração
Thursday, January 13, 2011
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