Monday, January 24, 2011

graças a deus eu não sou deus!

Ó, devo estar maluco a ficar por aqui sentado sozinho no vazio & espiando & construindo pensamentos de amor!
Mas do que devo duvidar a não ser dos meus próprios olhos brilhantes, o que tenho a perder a não ser a vida que hoje é uma visão nesta tarde.

Allen Ginsberg, Iluminação de Sather Gate

Wednesday, January 19, 2011

Transcrição de Música de Órgão

Meus livros empilhados à minha frente para meu uso aguardando no espaço onde os coloquei, eles não desapareceram, o tempo deixou seus restos e qualidades para que eu os usasse - minhas palavras empilhadas, meus textos, meus manuscritos, meus amores.

Allen Ginsberg

a verdade é a verdade

Toda nossa vida parece não passar de um esforço frenético para fugir do que está constantemente ao nosso alcance. Isso que é o próprio avesso do miraculoso é apenas medo. O homem não possui outro inimigo real além deste que carrega dentro de si.

Ele toldava a questão real com uma cortina de fumaça produzida pelas palavras; lutava como um louco para cegar a própria visão do caminho que estava predestinado a seguir. O mundo tem sido ao mesmo tempo bondoso e cruel com ele, na medida da dualidade e do antagonismo que Balzac gerava. Aceitou-o como um dos maiores gênios humanos; e parmaneceu ignorante do objetivo que colimava. Ele queria fama, glória, reconhecimento: recebeu-os. Queria riqueza, bens, poder sobre os homens: obteve tudo isso. Queria criar um mundo próprio: criou-o. Mas a verdadeira vida que secretamente desejava foi-lhe negada - porque não se pode ter um pé num mundo e o outro em outro mundo. Ele não aprendera a lição da Renúncia: renunciara ao mundo, não para abdicar, mas para conquistar. Nos seus momentos de iluminação percebia a verdade, mas nunca foi capaz de viver de acordo com a sua visão. No caso dele, conforme permite Seraphita dizer com ofuscante clareza, foi realmente uma luz que mata o homem que não está preparado para recebê-la.

Henry Miller, A Sabedoria do Coração

Thursday, January 13, 2011

quem não arrisca...

Essa condição de sublime indiferença é um desenvolvimento lógico da vida egocêntrica. Vivi integralmente o problema social morrendo: o verdadeiro problema não é se dar bem com os vizinhos ou contribuir para o progresso do país, mas descobrir o próprio destino, procurar viver em harmonia com o ritmo bem centrado do cosmos. Ser capaz de usar a palavra cosmos com ousadia, usar a palavra alma, tratar de coisas "espirituais" - e esquivar-se de definições, álibis, provas, deveres. O paraíso está em toda a parte e toda estrada nos leva lá se seguirmos por ela tempo suficiente. Só pode avançar caminhando para trás e depois para o lado e depois subindo e depois descendo. Não há progresso: há um movimento, um deslocamento perpétuo que é circular, espiral, infindo. Cada homem tem o seu destino: o único imperativo é seguí-lo, aceitá-lo, a despeito de onde o leve.

Ninguém que se entregue voluntariamente à experiência pode se afogar no oceano da realidade. O pouco progresso que exista na vida não é fruto da adaptação mas da ousadia, da obediência ao impulso cego. "Nenhuma ousadia é fatal", disse René Crevel, uma frase que nunca hei de esquecer.

Henry Miller, A Sabedoria do Coração

dream is destiny

Pois o artista que existe no homem é o símbolo perene da união entre os eus conflitantes. É preciso dar um sentido à vida pela razão óbvia de que ela não tem sentido. Tem-se que criar algo que medeie de forma curativa e estimulante a vida e a morte porque a conclusão para a qual a vida aponta é a morte, e o homem, instintiva e persistentemente, fecha os olhos para este fato conclusivo. O sentido de mistério que existe no fundo de toda a arte é o amálgama de todos os terrores indizíveis que a realidade cruel da morte inspira. A morte então tem que ser vencida - ou disfarçada, ou transfigurada. Mas na tentativa de vencer a morte o homem é inevitavelmente obrigado a vencer a vida, pois as duas estão inextricavelmente ligadas. A vida caminha para morte, e negar uma é negar a outra. O sentido inexorável de destino que todo indivíduo criativo revela reside nessa consciência do objetivo, nessa aceitação do objetivo, nessa marcha para a fatalidade, que forma uma unidade com as forças inescrutáveis que o animam e o impelem.
Toda a história é o registro do memorável fracasso do homem em contrariar o destino.

Deve salvar o homem do medo da morte, para que seja capaz de morrer!

Henry Miller, A Sabedoria do Coração

Wednesday, January 12, 2011

wrong again*

Como pode ver, o infortúnio me ensinou a ser calculista. Uso a razão, nenhuma paixão. O senhor me obriga a lhe dizer que não o amo, que não devo, não posso nem quero lhe amar. Passei do momento da vida em que as mulheres cedem aos impulsos irrefletidos do coração e não mais saberia ser a amante que o senhor procura.

xxx

Junto a ela todas as outras mulheres empalidecem. É preciso ter passado pelo medo da perda de um amor tão vasto, tão brilhante, ou o haver perdido, para lhe dar todo o valor. Mas, se o tendo conhecido, um homem se vê privado dele para mergulhar em qualquer frio matrimônio; se a mulher com a qual esperou encontrar as mesmas felicidades que experimentou anteriormente lhe prova, por qualquer um desses atos amortalhados nas trevas da vida conjugal, que elas não renascerão para ele; se ele ainda conserva nos lábios o gosto de um amor celestial e se ele feriu de maneira mortal a sua verdadeira esposa em favor de uma ilusão social, então é preciso morrer ou adotar essa filosofia materialista, egoísta, fria, que horroriza as almas apaixonadas.

xxx

Sim, o homem, o coração, a alma que um dia conheci não mais existirão; eu os amortalharei na minha lembrança para mais uma vez desfrutar deles e viver feliz dessa bela vida passada, mas desconhecida de quem quer que seja que não nós dois.

Honoré de Balzac, A Mulher Abandonada

I'm so tired of thinking of it,
and I gain the wisdom to know what I need
And I've lost to much time thinking of that girl
Not let my anger tear me up the way I do, the way I do
I wake with head on in the morning
But seem to lose it somewhere along the way
And it don't feel right

Big Drill Car - Head On

*ALL

notas de uma bela obra.

O homem gosta de criar e de abrir caminhos, isto é indiscutível. Mas por que ele também ama com paixão a destruição e o caos? Digam-me, por favor! Entretanto, eu mesmo quero dizer duas palavras à parte sobre isso. Não poderia ser, talvez, que ele ame tanto a destruição e o caos (bem, é indiscutível que ele às vezes gosta muito, não há dúvida) porque ele mesmo, instintivamente, teme atingir o objetivo de concluir o edifício que estava construindo? Como os senhores podem saber? Talvez ele ame o edifício somente de longe e não o ame de perto; talvez ele ame apenas o ato de construí-lo, e não viver nele, abandonando-o depois aos animaux domestiques, como formigas, cerneiros, etc. Vejam como as formigas têm um gosto completamente diferente. Elas têm edifícios extraordinários, indestrutíveis para os séculos: os formigueiros.
As veneráveis formigas começaram com um formigueiro e terminarão também, provavelmente, com um formigueiro, o que muito honra sua constância e sua natureza positiva. Mas o homem é um ser inconstante e pouco honesto e, talvez, à semelhança do jogador de xadrez, goste apenas do processo de procurar atingir um objetivo, e não do objetivo em si. E quem sabe? Não se pode garantir, mas talvez todo o objetivo a que o homem se dirige na Terra se resuma a esse processo constante de buscar conquistar ou, em outras palavras, à própria vida, e não ao objetivo exatamente, o qual, evidentemente, não deve passar de dois e dois são quatro, ou seja, uma fórmula, e dois e dois são quatro já não é vida, senhores, mas o começo da morte. Pelo menos, o homem sempre teve um certo temor desse dois e dois são quatro, e eu até agora tenho. Suponhamos que o homem não faça outra coisa além de procurar esse dois e dois são quatro, atravessando oceanos, sacrificando a vida nessa busca, mas sou capaz de jurar que ele tem medo de encontrá-lo realmente. Porque ele sente que, assim que o encontrar, não haverá nada mais para procurar.

xxx

Pois chegamos ao ponto de quase achar que a verdadeira "vida viva" é um trabalho, quase um emprego, e todos nós no íntimo pensamos que nos livros é melhor. E por que às vezes ficamos irriquietos, inventamos caprichos? E o que pedimos? Nós mesmos não sabemos. Nós mesmos nos sentiremos pior se nossos pedidos delirantes forem atendidos. Pois bem, façam uma experiência, dêem-nos, por exemplo, mais independência, desamarrem as mãos de qualquer um de nós, ampliem nossa esfera de ação, relaxem a tutela e nós... eu lhes asseguro: nós imediatamente pediremos a volta da tutela. Sei que os senhores talvez fiquem bravos comigo, comecem a gritar e bater os pés: "Fale somente sobre si mesmo e sobre suas misérias no subsolo, mas não ouse dizer todos nós". Permitam-me, senhores, eu não estou me justificando quando digo todos. E no que me diz respeito, eu apenas levei às últimas consequências na minha vida aquilo que os senhores não tiveram coragem de levar nem à metade, e ainda por cima acharam que sua covardia era bom senso, consolando-se e enganando a sí próprios com isso. De modo que talvez eu esteja mais "vivo" que os senhores.

xxx

E de fato agora eu mesmo estou colocando uma questão ociosa: é melhor uma felicidade barata ou um sofrimento elevado? Então, o que é melhor?

xxx

Destruam meus desejos, apaguem meus ideais, mostrem-me alguma coisa melhor, e serei seu seguidor. Talvez os senhores digam que não vale a pena meter-se comigo; nesse caso, posso responder-lhes da mesma forma. Estamos argumentando seriamente, mas, se não quiserem conceder-me sua atenção, não hei de me humilhar. Tenho meu subsolo.

Fiódor Dostoiévski, Notas do Subsolo

Friday, January 07, 2011

someday in january

i don't wanna say anything, speechless i think
if i had to wake, then i'd drink
but you're right here, can you defy my stare
if i can keep my cool we'll have a swinging time
didn't take that long to know that things would get real weird
weird is in the making, that's my fear
truth be said, i really miss your smile
missing it a while, hell it's been years

when you're here, you're so beautiful my dear
if i can keep my cool we'll have a swinging time
but i'm wasting here, just failing my dear
failing here alone with stupid pride

i can't pretend i really don't care at all
really don't care at all right now, for a while
truth be said, i really miss your smile
i've been missing it a while, it's been years
hung on you for years, a bit too much i fear
hung on you for years, a bit too much i fear my dear
well i barely knew you, took so long to meet you
should've never kissed you, happy birthday

hoje é o meu aniversário.
obrigada, armchair martian.

Thursday, January 06, 2011

que estranhos e doces pensamentos brotam nas solidões montanhosas!

Depois de todo esse tipo de farra, e ainda mais, cheguei ao ponto em que precisava de solidão e de desligar a máquina de "pensar" e "curtir" o que chamam de "viver"; tudo o que eu queria era deitar na grama e olhar as nuvens.
Uma escritura antiga também diz: - "A sabedoria só pode ser obtida sob o ponto de vista da solidão".

Jack Kerouac, Viajante Solitário

Monday, January 03, 2011

sensation

Nas tardes de verão, irei pelos vergéis,
Picado pelo trigo, a pisar a erva miúda:
Sonhador, sentirei um frescor sob os pés
E o vento há de banhar-me a cabeça desnuda.

Calado seguirei, não pensarei em nada:
Mas infinito amor dentro do peito abrigo,
E como um boêmio irei, bem longe pela estrada,
Feliz - qual se levasse uma mulher comigo.

Arthur Rimbaud, Março de 1870