Thursday, October 21, 2010

e o cachorrinho riu*

(...) como poderia eu ter chegado à idade de que gozo hoje sem estes períodos de repouso e respiração funda? Como poderia eu ter lutado para abrir caminho até à serenidade com que hoje contemplo os erros da juventude e com que suporto os terrores da idade? Como poderia ter chegado ao ponto de ser capaz de extrair as consequências do meu temperamento reconhecidamente infeliz, digamos antes, para não ser tão rude, do meu temperamento pouco feliz, e conseguir viver quase em perfeito acordo com elas? Solitário e afastado, sem nada em que me ocupar a não ser as minhas desesperadas investigações, a meu ver absolutamente indispensáveis, é este o modo como vivo; contudo, no meu isolamento, não perdi de vista os meus, frequentemente chegam até mim notícias deles, e de vez em quando até consinto que recebam notícias minhas. Os outros tratam-me com respeito, mas não compreendem o meu gênero de vida (...)

Franz Kafka, A Grande Muralha da China

*quem leu Pergunte ao Pó do Fante entenderá essa.

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