Saturday, October 30, 2010

...

"Sentando-se sozinho, deitando-se sozinho, caminhando sozinho sem parar, e sozinho subjugando a si mesmo, deixe um homem ser feliz perto da margem de uma floresta."

"Os construtores de poços conduzem a água para onde querem;
os fabricantes de flechas submetem a seta;
carpinteiros submetem um tronco de madeira;
boas pessoas moldam a si mesmas."

- Darmapada

Jack Kerouac, Despertar: Uma Vida de Buda

Tuesday, October 26, 2010

amor e ódio

Mas naquela época, justamente em meio a estas comoções e perturbações, descobri que, se desejasse realmente libertar-me da minha rigidez e tomar um decisão, cada um dos meus atos, e todos os movimentos que existiam em mim iam sempre ao teu encontro, e te procuravam. Então, quando pela primeira vez, após este luto apático, vi-me obrigado a pensar novamente no dia de amanhã, quando atrás de ti ergueu-se novamente o destino, enviando-me a dura pergunta através da tua voz que se havia tornado estranha: "O que queres fazer?" - neste momento todo o gelo pareceu derreter-se em mim. Da geleira brotou a onda, arremessando-se com todo vigor ao encontro da margem, sem hesitações e sem dúvidas. Quando me perguntaste sobre o futuro e me encontraste indefeso, e eu passei uma noite insone, atormentado por esta angústia, soube, ao reencontrar-te de manhã, que és a amiga sempre nova, sempre jovem, a minha eterna meta, e que para mim existe apenas uma realização que tudo abrange: ir ao teu encontro.

As tuas cordas são ricas, e por mais longe que eu possa ir - sempre estás novamente diante de mim.

Rainer Maria Rilke, O Diário de Florença

only your words melt my twenty year freeze
Descendents - In Love this Way

Estou falida e não tenho como comprar livros, então decidi tentar terminar de ler Do Outro Lado do Rio, Entre as Árvores do Hemingway. Insuportável define essa obra, mas sou contra deixar algo pela metade, até para não falar mal injustamente. Tentei achar beleza nos livros dele, já li três ou quatro, não me recordo. Não entendo como ele ganhou Prêmio Nobel de Literatura. Quem acha que ele foi legal... precisa ler algo além de O Velho e o Mar. Digo isso sem arrogância ou pretensão, apenas sinceridade. Sem mais.

Friday, October 22, 2010

virei nuvem.

Vivemos tão mal porque chegamos sempre inacabados ao presente, incapazes e dispersos em tudo. Não consigo recordar nenhum momento da minha vida sem tais censuras e outras maiores. Acho que só nos dez dias após o nascimento de Ruth* vivi sem perda; achando a realidade, até o mais ínfimo, tão indescritível, como ela provavelmente sempre é.

* fila de Rilke

Rainer Maria Rilke, Cartas Sobre Cézanne












Lembrei do seguinte trecho de Waking Life:

(...) And that's what film has. It's just that moment, which is holy. You know, like this moment, it's holy. But we walk around like it's not holy. We walk around like there's some holy moments and there are all the other moments that are not holy, right, but this moment is holy, right? And if film can let us see that, like frame it so that we see, like, "Ah, this moment. Holy." And it's like "Holy, holy, holy" moment by moment. But, like, who can live that way? Who can go, like, "Wow, holy"? Because if I were to look at you and just really let you be holy, I don't know, I would, like, stop talking.

Well, you'd be in the moment, I mean ....

Yeah

The moment is holy.

Thursday, October 21, 2010

rabo de galo

It's quite clear that I'm back in the swing of the living,
although I might not be on the right track.

Sublime - New Realization

Postei essa letra há alguns anos. Sigo tentando acertar.


















Rooster Man por Opie Ortiz

e o cachorrinho riu*

(...) como poderia eu ter chegado à idade de que gozo hoje sem estes períodos de repouso e respiração funda? Como poderia eu ter lutado para abrir caminho até à serenidade com que hoje contemplo os erros da juventude e com que suporto os terrores da idade? Como poderia ter chegado ao ponto de ser capaz de extrair as consequências do meu temperamento reconhecidamente infeliz, digamos antes, para não ser tão rude, do meu temperamento pouco feliz, e conseguir viver quase em perfeito acordo com elas? Solitário e afastado, sem nada em que me ocupar a não ser as minhas desesperadas investigações, a meu ver absolutamente indispensáveis, é este o modo como vivo; contudo, no meu isolamento, não perdi de vista os meus, frequentemente chegam até mim notícias deles, e de vez em quando até consinto que recebam notícias minhas. Os outros tratam-me com respeito, mas não compreendem o meu gênero de vida (...)

Franz Kafka, A Grande Muralha da China

*quem leu Pergunte ao Pó do Fante entenderá essa.

Wednesday, October 20, 2010

sobre viver na toca

Todos estes anos tenho tido imensa sorte, e a sorte estragou-me; tenho tido preocupações, mas a preocupação não conduz a nada de concreto, quando se tem a sorte a apoiar-nos.

Franz Kafka, A Grande Muralha da China

I know it's tough sometimes to be with me
When I'm predicting rain most every day
Lately I've been right, almost every time

Descendents - Lucky

Tuesday, October 19, 2010

...

Se ainda existirem temores ou dúvidas em suas almas, rejeitem ambos e não os levem em conta. Mesmo que avultem em seus caminhos: haverá sempre montanhas erguendo-se diante do passado.

Rainer Maria Rilke, O Diário de Florença

Apenas um fragmento. Me fez lembrar do final de Trópico de Câncer, não sei exatamente o porquê. Tenho que comentar algumas coisas que andei lendo, mas vou empurrar com a barriga (para não perder o costume) e escrever outro dia.

Monday, October 18, 2010

o caminho em direção a si mesmo.

Se já estou suficientemente calmo e maduro para iniciar o diário que pretendo passar às tuas mãos - não o sei. Sinto, porém, que minha alegria permanece impessoal e sem brilho, enquanto dela não participares como confidente - ao menos por intermédio de alguma anotação íntima e sincera sobre esta alegria em um livro que te pertence. Começarei, então. E aceito de bom grado como augúrio o fato de iniciar esta demonstração da minha saudade nestes dias que um ano inteiro separa daqueles em que, com o mesmo anseio, eu caminhava ao encontro de algo indeterminado, não sabendo ainda que tu és a realização para a qual me preparava em versos inquiridores.

xxx

Saibam, pois, que a arte é: um caminho para a liberdade. Todos nós nascemos acorrentados. Um ou outro esquece os seus grilhões, revestindo-os de prata ou de ouro. Mas nós queremos quebrá-los. Não com violência torpe e selvagem; queremos nos desvencilhar crescendo, até que eles não nos caibam mais.

Rainer Maria Rilke, O Diário de Florença