Friday, September 24, 2010

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Costumava ficar horas e horas esticado ao sol, fazendo nada, pensando em nada. Manter a cabeça vazia é um feito e tanto, e um feito muito útil. Ficar calado durante o dia inteiro, não ler nenhum jornal, não ouvir rádio, não prestar atenção em nenhuma fofoca, estar inteiramente e completamente relaxado, inteira e completamente indiferente à sorte do mundo, é o melhor remédio que um homem pode encontrar. A aprendizagem dos livros vai se evaporando gradualmente; os problemas se derretem ou dissolvem; as ligações se cortam com toda a suavidade; pensar, quando a gente se dá ao luxo de pensar, torna-se algo extremamente primitivo; o corpo se transforma em novo e maravilhoso instrumento; você olha para as plantas e para os peixes com novos olhos; você fica imaginando o que será que as pessoas estão querendo com a sua atividade frenética; você sabe que há uma guerra acontecendo, mas não tem a mínima idéia dos motivos ou por que as pessoas se divertem matando-se umas às outras; você olha para um lugar como a Albânia (que me encarava constantemente) e diz de si para si, ontem era grega, hoje é italiana, amanhã poderá ser alemã ou japonesa, e você deixa que seja o que bem entender. Quando você está bem consigo mesmo, não importa a bandeira que esvoaça sobre sua cabeça, ou quem é dono de você, ou se você fala inglês ou algum dialeto desconhecido do norte da África. A falta de jornais, a falta e notícias sobre o que os homens estão fazendo nas diferentes partes do mundo para tornar a vida mais agradável ou mas desagradável é a maior felicidade. Se nós pudéssemos simplesmente eliminar os jornais, tenho certeza de que a humanidade faria um grande progresso. Os jornais alimentam mentiras, ódios, avareza, inveja, suspeita, medo, malícia. Nós não precisamos da verdade da forma como ela nos é servida nos jornais. Nós precisamos de paz e solidão e preguiça. Se nós pudéssemos entrar todos em greve e honestamente nos desligarmos do interesse no que o vizinho está fazendo, teríamos um novo tipo de vida. Nós podemos sobreviver sem telefones, rádios, jornais, sem máquinas de espécie alguma, sem fábricas, sem moinhos, sem minas, sem explosivos, sem navios de guerra, sem políticos, sem advogados, sem alimentos enlatados, sem gadjgets, até mesmo sem lâminas de barbear, ou celofane, ou cigarros, ou dinheiro. Eu sei que isso é um sonho. As pessoas só batalham por melhores condições de trabalho, melhores salários, melhores oportunidades de se tornar algo que não são.

Henry Miller, O Colosso de Marússia

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