Thursday, August 12, 2010

never leave a job half done

Una que me fazia tremer só de olhar pra ela, Una a quem eu tinha medo de beijar ou mesmo de tocar na mão. Onde está Una? Sim, de repente, essa passa a ser a pergunta causticante: onde está Una? Em dois segundos fico completamente enervado, completamente perdido, desolado, na mais horrível angústia e desespero. Como a deixei ir? Por quê? Que aconteceu? Quando aconteceu? Eu pensava nela como um maníaco dia e noite, ano após ano, e depois, sem que eu reparasse, ela desapareceu da minha mente, assim como um níquel que cai por um buraco no fundo do bolso. Incrível, monstruoso, louco. Porque tudo que eu tinha a fazer era apenas pedir-lhe que se casasse comigo, pedir sua mão - só isso. Se eu o fizesse ela teria dito sim imediatamente. Amava-me, amava-me desesperadamente. Sim, lembro-me agora, lembro-me de como me olhou na última vez em que nos encontramos. Estava me despedindo porque ia partir naquela noite para a California, deixando tudo para começar uma vida nova. E nunca tive a menor intenção de levar uma vida nova. Pretendia pedir-lhe que se casasse comigo, mas a história que havia inventado como um toxicômano saiu de meus lábios tão naturalmente que eu próprio acreditei nela. Por isso disse adeus e me afastei. Ela ficou lá me olhando e eu senti seus olhos me atravessarem de um lado ao outro, ouvi-a gemendo por dentro, mas como um autômato continuei andando, finalmente virei a esquina e isso foi o fim de tudo. Adeus! Assim. Como em estado de coma. E eu queria dizer: Venha comigo! Venha comigo porque não posso mais viver sem você!

Henry Miller, Trópico de Capricórnio

Impossível não me ver ali. Vivo um amor romântico há dois anos. O romântico clássico, aquele que jamais se concretiza, aquele em que ambos sofrem, cada um de um lado da cidade. I must live to know that healing takes some time (Hot Water Music - Remedy).

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