Wednesday, August 18, 2010

It ain't written so don't try to read it.

Lembro-me de que na primeira vez que nos separamos essa idéia de totalidade me agarrou pelos cabelos. Quando me deixou, ela fingiu ou talvez acreditasse mesmo que isso era necessário para nosso bem-estar. No fundo do coração eu sabia que ela estava tentando livrar-se de mim, mas era muito covarde para admitir tal coisa. Quando percebi, porém, que ela podia passar sem mim, mesmo por um tempo limitado, a verdade que eu tentara expulsar começou a crescer com alarmante rapidez. Era mais dolorosa que qualquer outra coisa por mim já experimentada antes, mas era também salutar. Quando fiquei completamente esvaziado, quando a solidão atingiu um ponto em que não podia mais ser aguçada, senti de repente que, para continuar vivendo, esta verdade intolerável precisava ser incorporada a algo maior que a estrutura do infortúnio pessoal. Senti que eu havia feito uma imperceptível mudança para outro reino, um reino de fibra mais resistente e elástica, senti que a mais horrível verdade era impotente para destruir-me. Sentei-me para escrever-lhe uma carta dizendo-lhe que a idéia de perdê-la me deixava tão miserável que eu decidira começar um livro a seu respeito, um livro que a imortalizaria. Seria um livro, disse eu, como nunca se vira outro antes. Continuei a divagar assim em êxtase e no meio disso de repente pus-me a perguntar por que me sentia tão feliz.

Passando por baixo do salão de dança, pensando de novo neste livro, percebi de repente que nossa vida chegara ao fim: percebi que o livro que eu estava planejando nada mais era do que um túmulo para enterrá-la - e para enterrar o eu que pertencera a ela. Isso foi há algum tempo e desde então venho tentando escrevê-lo. Por que é tão difícil? Por quê? Porque a idéia de "fim" é intolerável para mim.

Henry Miller, Trópico de Capricórnio

You're in all the books I read.
A hundred pages out of reach


Jawbreaker - First Step

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