Monday, August 30, 2010

música da semana

So alone I wrote, I wrote this will, I will decline
This fish ain't big, this pond is small, so small of mind

Jawbreaker - Friendly Fire

Sunday, August 29, 2010

clássico

É melhor morrer de pé do que viver ajoelhado.

Ernest Hemingway, Do Outro Lado do Rio, Entre as Árvores

Thursday, August 26, 2010

atemporal

Todo poder humando é uma mistura de paciência e de tempo. As criaturas poderosas querem - e velam. A vida do avarento é um constante exercício da potência humana colocada a serviço da personalidade. Ele só se apóia sobre dois sentimentos: o amor-próprio e o interesse; mas, como o interesse é de certo modo o amor próprio sólido e bem compreendido, a comprovação permanente de uma superioridade real, o amor próprio e o interesse são duas partes de um mesmo todo, o egoísmo.

Honoré de Balzac, Eugênia Grandet

Tuesday, August 24, 2010

extra

Eu não a amo! Será que ela não me ouve gritando isso? Eu não a amo! Vezes e vezes eu grito, com os lábios cerrados, com ódio no coração, com desespero, com raiva desesperada. Mas as palavras nunca saem de meus lábios. Olho-a e tenho a língua presa. Não posso fazer isso... Tempo, tempo, tempo interminável em nossas mãos e nada com que enchê-lo a não ser com mentiras.

Henry Miller, Trópico de Capricórnio

Lembrei dele. Lembrei de quando tentou explicar sua absurda, gritante e injustificável decadência dizendo "era o que tinha".

miau

Houve uma chance por um instante encantado. Essa chace foi desperdiçada. Caminho errado. Hora errada. Cedo demais. Tarde demais.

William Burroughs, O Gato por Dentro

Monday, August 23, 2010

e agora?

Preciso de você porque eu não estava bem preparado para fazer o que fiz. Não se lembra de ter-me dito que era desnecessário fazer a viagem, mas que eu a fizesse se precisava disso? Por que não me convenceu a não partir? Ah, convencer não era para ele. E pedir conselho nunca fora para mim. Por isso aqui estou, falido no deserto; a ponte que era real ficou atrás de mim, o que é irreal está à minha frente e, só cristo sabe, estou tão confuso e desorientado que se pudesse seria capaz de afundar-me na terra e desaparecer.

Henry Miller, Trópico de Capricórnio

Thursday, August 19, 2010

pisou na grama

Estou louco, louco de dor, louco de angústia. Estou desesperado, mas não estou perdido. Não, existe uma realidade a que eu pertenço. É longe, muito longe. Talvez eu ande desde agora até o dia do juízo final de cabeça baixa sem encontrá-la. Mas ela está lá, disso tenho certeza. Lanço sobre as pessoas olhares assassinos. Se pudesse jogar uma bomba e reduzir a pedacinhos todo o bairro eu o faria. Sentir-me-ia feliz vendo-os voar pelos ares, estropiados, gritando, despedaçados, aniquilados. Desejo aniquilar a terra inteira. Eu não faço parte dela. É insana do começo ao fim.

Henry Miller, Trópico de Capricórnio

Blake Schwarzenbach,

me calo perante a tua genialidade.

Wednesday, August 18, 2010

It ain't written so don't try to read it.

Lembro-me de que na primeira vez que nos separamos essa idéia de totalidade me agarrou pelos cabelos. Quando me deixou, ela fingiu ou talvez acreditasse mesmo que isso era necessário para nosso bem-estar. No fundo do coração eu sabia que ela estava tentando livrar-se de mim, mas era muito covarde para admitir tal coisa. Quando percebi, porém, que ela podia passar sem mim, mesmo por um tempo limitado, a verdade que eu tentara expulsar começou a crescer com alarmante rapidez. Era mais dolorosa que qualquer outra coisa por mim já experimentada antes, mas era também salutar. Quando fiquei completamente esvaziado, quando a solidão atingiu um ponto em que não podia mais ser aguçada, senti de repente que, para continuar vivendo, esta verdade intolerável precisava ser incorporada a algo maior que a estrutura do infortúnio pessoal. Senti que eu havia feito uma imperceptível mudança para outro reino, um reino de fibra mais resistente e elástica, senti que a mais horrível verdade era impotente para destruir-me. Sentei-me para escrever-lhe uma carta dizendo-lhe que a idéia de perdê-la me deixava tão miserável que eu decidira começar um livro a seu respeito, um livro que a imortalizaria. Seria um livro, disse eu, como nunca se vira outro antes. Continuei a divagar assim em êxtase e no meio disso de repente pus-me a perguntar por que me sentia tão feliz.

Passando por baixo do salão de dança, pensando de novo neste livro, percebi de repente que nossa vida chegara ao fim: percebi que o livro que eu estava planejando nada mais era do que um túmulo para enterrá-la - e para enterrar o eu que pertencera a ela. Isso foi há algum tempo e desde então venho tentando escrevê-lo. Por que é tão difícil? Por quê? Porque a idéia de "fim" é intolerável para mim.

Henry Miller, Trópico de Capricórnio

You're in all the books I read.
A hundred pages out of reach


Jawbreaker - First Step

Tuesday, August 17, 2010

...

Sócrates - O uso da escrita, Fedro, tem um inconveniente que se assemelha à pintura. Também as figuras pintadas têm a atitude de pessoas vivas, mas se alguém as interrogar conservar-se-ão gravemente caladas. O mesmo sucede com os discursos. Falam das coisas como se as conhecessem, mas quando alguém quer informar-se sobre qualquer ponto do assunto exposto, eles se limitam a repetir sempre a mesma coisa. Uma vez escrito, um discurso sai a vagar por toda parte, não só entre os conhecedores mas também entre os que não entendem, e nunca se pode dizer para quem serve e para quem não serve. Quando é desprezado ou injustamente censurado, necessita do auxílio do pai, pois não é capaz de defender-se nem de se proteger por si.

Platão, Fedro

Expressions and words.
They're nothing but letters.
Emotionally illiterate.
Severely inarticulate.

Cap'n Jazz - Aok

Monday, August 16, 2010

comodismo

Queres te tornar cada vez mais virtuoso? Confia em ti e não na pessoa que te ama, pois o que ama louvará sempre as tuas palavras e teus atos sem se preocupar com a verdade e com o bem, de medo de te perder ou pela simples cegueira que é própria da paixão. São estas as ilusões do amor. O amor infeliz aflige-se com aquilo que a ninguém incomoda; o amor feliz acha que tudo é encanto, as menores e mais insignificantes coisas. O amor é mais digno de piedade do que de inveja. Se cederes aos meus desejos, não me verás à procura, na tua intimidade, de um simples prazer efêmero. Hei de estar vigilante a que nos liguem interesses duráveis, pois que, liberto do amor, sou capaz de me dominar.

trecho do discurso de Lísias sobre o amor
Platão, Fedro

Friday, August 13, 2010

ode to DROKZ

talkin' about i already droks, talkin' about i already miss you, talkin' about missing you i already droks... porra, como é mesmo o nome da música? tu sempre erra. resolvi homenagear meu guru musical: predo, pedro, droks, skord, drox. que (nem) sempre está fortalecendo a amizade. infelizmente moramos em PRAÇAS distantes, mas enfim, nem tudo é perfeito como as bandas que tu me indicou (exceto as góticas e obscuras, claro). além de ser meu único leitor por anos, me dedicou pretty little girl traduzida via depoimento, apresentou jawbreaker - banda que disse o que eu precisava ouvir tantas vezes (primeira canção foi sea foam green, diga-se de passagem). me mostrou armchair martian, the germs (lembro que citou um trecho de lexicon devil e eu fiquei BOLADA e fui atrás) the vicious, dinosaur jr, me mandou MILESTONE quando eu não achava pra baixar no auge dos meus 20 anos, drag the river (lembro que tu me desafiou falando que eles tinham várias músicas boas e não entendia porque eu só escutava until i say so). sinto muito por ter perdido o show da xarrastarx, mas sabe como é, sou assim (fraca, haha). sempre perco shows, sempre bebo coca light, sempre saio na rua de moletom com capuz e sou confundida com marginais, (nem) sempre faço bottons com a cara de algum amigo e mando pro sá666. mas por outro lado, meu casaco é eternamente perfumado e eu posso pendurar no elevador e tornar tua vida mais agradável. agoran estou vestindo a camiseta rosa do merda que tu me deu, após anos de cobiça. mulheres eu já li. o adesivo do buk eu já colei. COLEI NA QUEBRADA.

aí (sei que tu curte um "aí" bem empregado), grata por todas as dicas boas, pelas noites jogando stop com características do milo, por tocar piano e andar de bicicleta. nunca te escuto de primeira, mas antes tarde do que nunca. não me venha com SMALL BLOCK. "sacanajjj"

obs: já fez teu last.fm?
obs2: ]

Thursday, August 12, 2010

never leave a job half done

Una que me fazia tremer só de olhar pra ela, Una a quem eu tinha medo de beijar ou mesmo de tocar na mão. Onde está Una? Sim, de repente, essa passa a ser a pergunta causticante: onde está Una? Em dois segundos fico completamente enervado, completamente perdido, desolado, na mais horrível angústia e desespero. Como a deixei ir? Por quê? Que aconteceu? Quando aconteceu? Eu pensava nela como um maníaco dia e noite, ano após ano, e depois, sem que eu reparasse, ela desapareceu da minha mente, assim como um níquel que cai por um buraco no fundo do bolso. Incrível, monstruoso, louco. Porque tudo que eu tinha a fazer era apenas pedir-lhe que se casasse comigo, pedir sua mão - só isso. Se eu o fizesse ela teria dito sim imediatamente. Amava-me, amava-me desesperadamente. Sim, lembro-me agora, lembro-me de como me olhou na última vez em que nos encontramos. Estava me despedindo porque ia partir naquela noite para a California, deixando tudo para começar uma vida nova. E nunca tive a menor intenção de levar uma vida nova. Pretendia pedir-lhe que se casasse comigo, mas a história que havia inventado como um toxicômano saiu de meus lábios tão naturalmente que eu próprio acreditei nela. Por isso disse adeus e me afastei. Ela ficou lá me olhando e eu senti seus olhos me atravessarem de um lado ao outro, ouvi-a gemendo por dentro, mas como um autômato continuei andando, finalmente virei a esquina e isso foi o fim de tudo. Adeus! Assim. Como em estado de coma. E eu queria dizer: Venha comigo! Venha comigo porque não posso mais viver sem você!

Henry Miller, Trópico de Capricórnio

Impossível não me ver ali. Vivo um amor romântico há dois anos. O romântico clássico, aquele que jamais se concretiza, aquele em que ambos sofrem, cada um de um lado da cidade. I must live to know that healing takes some time (Hot Water Music - Remedy).

Tuesday, August 10, 2010

poema no trem

tua imagem é como uma sombra
posso não olhar,
mas sei que está aqui
do lado, atrás ou na frente,
cercando, acompanhando meus passos,
grudada em mim.

ela atrapalha minha visão,
mas é a ÚNICA prova
de que ainda há luz.

tractor rape chain

Era algo inconcebível pra mim que alguém pudesse fazer promessas sem ter a menor intenção de cumpri-las. Mesmo quando ficava mais cruelmente decepcionado eu ainda acreditava; acreditava que algo extraordinário e absolutamente além das forças da pessoa interviera para tornar a promessa nula.

Henry Miller, Trópico de Capricórnio

Sunday, August 08, 2010

sério

Quando eu vejo alguém fumando, automaticamente penso que essa pessoa é: insegura, ignorante, atrasada e, acima de tudo, CAFONA (supere os anos 80, por favor). A vida vai se tornar LITERALMENTE menos intragável quando as pessoas pararem de fumar nas ruas. Fumar numa calçada lotada, onde os indivíduos que estão do lado e atrás são obrigados a ficar perto e, consequentemente, respirando aquela fumaça é o cúmulo da invasão do espaço alheio, total falta de noção de como conviver harmoniosamente em sociedade, absurda falta de respeito e educação. É quase engraçado! Tu ali preso, tentando passar, sendo tomado pela nuvem de nicotina alheia. Depois de obrigar todos que estão próximos a fumar passivamente, o desgraçado joga o cigarro no chão (brasileiro que se preze ignora a existência de cinzeiros, afinal, temos calçadas aí para isso). Eis que ele atinge seu ápice: vira OFICIALMENTE entulho (para depois grudar na sola do meu tênis, entupir um bueiro ou iniciar um incêndio). Já passou da hora de parar com a escrotisse.

nota dominical

You're not the first you're not the last
Another day another crash


The Germs - The Other Newest One

Thursday, August 05, 2010

mestre

Não sei se vocês (pretencioso falar no plural, mas ok, volta e meia alguém chega aqui acidentalmente com uma busca sem nenhum sentido no google) estão preparados para tamanha breguisse, mas a verdade é que o Henry Miller me completa. Hoje no trem eu li um trecho de Trópico de Capricórnio que quase levantei e recitei. Tive vontade de abraçar o livro (não creio que fosse adiantar alguma coisa), sair contando pra todo mundo como aquilo era genial e lindo! E eu me sinto assim toda hora com a obra dele. Não importa se ele foi polêmico ou pedia dinheiro pra todo mundo, muito menos se foi promíscuo. Engraçado como geralmente os mais talentosos são os que mais se fodem na vida. Admiro profundamente o trabalho dele. Simplesmente não consigo parar de ler. Ele fala das coisas com muita propriedade, força, muito ódio ou muito amor, soa sempre verdadeiro e certeiro. Até quando ele se dizia confuso, parece esclarecedor. Ah, sério, os textos dele dizem muito sobre a minha personalidade. Não acho que isso seja bom, mas é a verdade e eu (con)vivo com ela, e mais, acredito nela e estando certa ou não, defendo até o fim. Obrigada por iluminar o meu abismo, transportar o meu vazio, confirmar minhas teorias sobre Ser de capricórnio e dizer o que eu não consigo externar.


















"Depois que nos separamos, nunca senti necessidade de sua presença efetiva; ele se dera a mim completamente e eu o possuíra sem ser possuído."

Tuesday, August 03, 2010

eu piso.

Fanático! Lembro-me que essa palavra foi assacada contra mim desde a infância. Especialmente pelos meus pais. Que é um fanático? Uma pessoa que acredita apaixonadamente e age desesperadamente com base no que acredita. Eu sempre acreditei em algo e assim me meti em encrencas. Quanto mais batiam em minhas mãos, mais firmemente eu acreditava. Eu acreditava - e o resto do mundo não acreditava! Se fosse apenas uma questão de suportar castigo, a gente poderia continuar acreditando até o fim.  Mas a maneira do mundo é mais insidiosa. Ao invés de ser castigado, você é minado, solapado, tiram-lhe o terreno debaixo dos pés. Não é sequer traição o que eu tenho em mente. Traição é compreensível e combatível. Não, é algo pior, algo menos que traição. É um negativismo que o leva a exceder-se. Você está perpetuamente gastando sua energia no ato de equilibrar-se. É dominado por uma espécie de vertigem espiritual, cambaleia na beira,  fica com os cabelos em pé, não pode acreditar que por baixo de seus pés exista um abismo imensurável. Isso acontece devido a excesso de entusiasmo, devido a um desejo apaixonado de abraçar pessoas,  de mostrar-lhes seu amor. Quanto mais você se estende em direção ao mundo, mais o mundo recua. Ninguém quer amor verdadeiro, ódio verdadeiro. Ninguém quer que você ponha a mão em suas sagradas entranhas - isso é só para o padre na hora do sacrifício. Enquanto você viver, enquanto o sangue ainda estiver quente, tem que fingir que não existe sangue, que não existe esqueleto por baixo da cobertura de carne. Não pise na grama! Esse é o lema pelo qual as pessoas vivem.

Henry Miller, Trópico de Capricórnio

Sunday, August 01, 2010

O Ciumento

"E eu fiquei com o desejo de chegar ao fim desta história, exemplo e espelho da desconfiança que devemos ter em chaves, rodas e paredes, quando a vontade permanece livre e do mesmo modo, da desconfiança que se deve ter nos verdes e poucos anos (...)"

Miguel de Cervantes, Novelas Exemplares