Saturday, July 31, 2010

finalmente

Espíritos inquietos, mas não aventurosos. Espíritos angustiados, incapazes de viver no presente. Covardes desgraçados, todos eles, inclusive eu próprio. Só existe uma grande aventura e essa é para dentro do próprio eu. Para essa não importa o tempo, nem espaço nem mesmo feitos.






















Em todo lugar onde ia fomentava discórdia, não porque fosse idealista, mas porque era como um holofote mostrando a estupidez e a futilidade de tudo. Além disso, eu não era bom puxa-saco. Isso me marcava, sem dúvida alguma

Henry Miller, Trópico de Capricórnio

Tuesday, July 27, 2010

Chanson de La Plus Haute Tour

Que venha, que venha
A hora da paixão.

Tenho tido paciência,
Nunca esquecerei.
Temores e dores
Para os céus se foram.
E uma sede insana
Tolda as minhas veias.

Que venha, que venha
A hora da paixão.

Estou como o campo
Entregue ao olvido,
Crescido e florido
De joios, resinas,
Ao bordão selvagem
Das moscas imundas.

Que venha, que venha
A hora da paixão.


Arthur Rimbaud

Monday, July 26, 2010

Mauvais Sang (Mau Sangue)

"A gente não parte. Retoma o caminho, e carregando meu vício, o vício que lançou raízes de dor ao meu lado desde a idade da razão, e sobe ao céu, me bate, me derruba, me arrasta.
A última inocência e a última timidez. Está dito. Não levar ao mundo meus dissabores e minhas traições.
Vamos! O ir, o fardo, o deserto, o tédio e a cólera.
A quem me alugar? Que animal é preciso que adore? Que santa imagem nos agredirá? Que corações partirei? Que mentira devo sustentar? Em que ânimo avançar?"

Arthur Rimbaud, Uma Temporada no Inferno

oi?

Acabei com a correspondência do Rimbaud e estou lendo Cervantes, logo, ficarei sem postar trechos por algum tempo. Ok, não é uma certeza, mas pelo estilo dele acho difícil conseguir separar poucas linhas sem comprometer o sentido total. Vamos de Milo, então:

My world is my mind
I'm locking myself inside
People they can't get in
I have no use for them

Saturday, July 24, 2010

12 de junho

O dia tá chuvoso. O clima tá tenso.
Vários tentaram fugir, eu também quero.
Mas de um a cem, a minha chance é zero.

Racionais Mc's - Diário de um Detento

Friday, July 23, 2010

aos meus.

Por enquanto, prefiro crer que vou melhorar como vocês querem que eu acredite, por mais estúpida que seja a existência, o homem sempre se apega a ela.

trecho da carta de Rimbaud a sua irmã Isabelle, 29 de Junho de 1891

Wednesday, July 21, 2010

Maison des Ailleurs

Eu continuarei achando muito triste viver sempre no mesmo lugar. Enfim, o mais provável é que sempre acabemos onde não queríamos ir, fazendo o que não gostaríamos de fazer. Vivendo e morrendo de maneira totalmente diferente do que queríamos, sem esperanças de nenhuma espécie de compensação.

trecho da carta de Rimbaud a sua família, 15 de Janeiro de 1885

Tuesday, July 20, 2010

...

"Eu, pobre de mim, não tenho nenhum apego à vida e, se vivo, estou acostumado a viver de cansaços, mas se for forçado a continuar a me cansar como agora e a me alimentar de tristezas tão grandes quanto absurdas nestes climas atrozes, receio abreviar minha existência."

trecho da carta de Rimbaud a sua família, 25 de Maio de 1881

new girl, old story

Na cama, com a outra, eu passava horas de desespero pensando onde poderia estar aquela que eu havia perdido. Exausto, eu tornava a cair dentro do fundo do poço. Que forma mais abominável de suicídio!  Não somente me destruí e destruí o amor que me devorava, como destruí tudo aquilo que estava ao meu alcance, inclusive aquela que se agarrava desesperadamente a mim enquanto dormia.

Henry Miller, O Mundo do Sexo

Today I heard the song that was playing
When I first kissed you
I woke up next to someone who wasn't you

I never thought I'd say this, Shreen
But I'm not happy

estático

Nossas leis e hábitos tem relação com a nossa vida social, nossa vida em comum; mas, na realidade, essa é a parte menos importante da nossa existência. A verdadeira vida começa quando estamos sozinhos, frente a frente com esse grande desconhecido que somos nós mesmos. O que acontece quando nos encontramos com outras pessoas é determinado pelos nossos diálogos íntimos. Os acontecimentos marcantes das nossas vidas - aqueles que realmente interessam - são frutos do silêncio e da solidão. Temos a tendência de atribuir muita coisa a encontros ocasionais e a nos referirmos a eles como ocorrências que marcam e definem nossas vidas, mas a verdade é que esses encontros não poderiam ter ocorrido se não estivéssemos preparados para enfrentá-los. Se fôssemos mais atentos, esses encontros ocasionais seriam muito mais gratificantes. Somente em determinadas épocas imprevisíveis de nossas vidas é que estamos, por assim dizer, em plena forma, em "sintonia" perfeita e, conseqüentamente, aptos para receber os favores do destino e da fortuna.

xxx

Hoje em dia parece que todos nós somos movidos apenas pelo medo. Temos medo até daquilo que é bom, saudável e alegre. (...) A única disciplina que a vida nos impõe, é aceitá-la como ela é. Tudo aquilo que fugimos, a que fechamos os olhos para não ver, tudo o que negamos, desprezamos ou denegrimos, acabará servindo apenas para derrotar-nos. Aquilo que parece ruim, doloroso e nocivo, pode ser transformado numa fonte de beleza, alegria e incentivo, sempre que encarado de frente, com coragem.

xxx

Transportamos nossos corpos de um lado para o outro da Terra com extrema rapidez, mas será que saímos do lugar onde estamos? Não. Estamos mentalmente, fisicamente e espiritualmente acorrentados. O que conseguimos ao derrubar montanhas, ao acumular a energia de rios caudalosos, ou ao mudar de lugar populações inteiras como se fossem peças de xadrez, se continuamos a ser as mesmas pessoas irrequietas, miseráveis e frustradas que éramos antes? Chamar tais atividades de progresso, é uma grande ilusão.

Henry Miller, O Mundo do Sexo

...













"Desejo, no entanto, dizer que você deve no fundo compreender, enfim, que era absolutamente necessário que eu partisse, que esta vida violenta e cheia de cenas sem motivos de sua fantasia não podia mais me encher o saco."

trecho da carta de Verlaine a Rimbaud, 3 de Julho de 1873

Monday, July 19, 2010

eu fico em casa.

"Fissurado para ir a um bar de que gostava, não havia ninguém que eu conhecesse, ou que quisesse conhecer. O balcão foi mudado, sem razão orgânica aparente, de um lugar para outro - garçons diferentes, nada que eu queira ouvir na máquina de música. (Estou no bar certo?) Todos se foram e eu estou sozinho em lugar nenhum. A cada noite, as pessoas são mais feias, os móveis mais horríveis, os garçons mais estúpidos, a música mais irritante, mais e mais, como um filme acelerado no vórtex da desintegração mecânica e da mudança sem sentido."

William Burroughs, Cartas do Yage

Sunday, July 18, 2010

acabou.

"Ainda outro pensamento me aflorou ao espírito: Porque eu estava tão obsessionado pela verdade?
E a resposta também surgiu clara e límpida. Porque existe somente a verdade e nada mais que a verdade."


















"Sabemos bem como você destrói as páginas de literatura em busca do que é do seu agrado. Descobrimos as pegadas desse espírito descuidado por toda parte. É você quem mata o gênio, quem estropia os gigantes. Você, você, seja por amor e adoração ou por inveja, despeito e ódio. Quem escreve para você escreve o próprio certificado de óbito."

Henry Miller, Nexus

Friday, July 16, 2010

fugaz.i

i burn a fire to stay cool 
i burn myself, 
i am the fuel 
i never meant to be cruel 
have you ever been cruel? 


she's not breathing 
she's not moving 
she's not coming back 


shut the door so i can leave 

Wednesday, July 14, 2010

statler #3

"Mas no instante em que entrei a fazer comparações entre seu corpo e o de Mona, percebi ser inútil prosseguir. Por mais carne e sangue que ela tivesse, eles continuavam a ser carne e sangue. Nada mais havia nela além do que se podia ver e tocar, ouvir e cheirar. Com Mona, a história era completamente outra. Qualquer porção do seu corpo servia para me inflamar. Sua personalidade jazia tanto na sua teta esquerda, a bem dizer, como no dedo mindinho direito. A carne falava de todas as partes, de todos os ângulos. Estranho: o corpo dela não era perfeito. Mas era melodioso e provocativo. O corpo ecoava suas disposições de espírito. Ela não tinha necessidade de alardeá-lo ou espicaçá-lo; tinha apenas de habitá-lo, de ser ele."


"Havia mil perguntas que eu morria de desejos de fazer-lhe, mas me controlei. Nem sequer perguntei por que trocara de navio. Que importava o que acontecera ontem, um mês atrás, cinco anos atrás? Ela estava de volta - e isso bastava."

Henry Miller, Nexus

sempre me pergunto

"A grande questão era essa pergunta eterna, aparentemente irrespondível: que tenho a dizer que ainda não foi dito, e milhares de vezes, por homens infinitamente mais dotados? Seria uma manifestação aguda do ego, essa necessidade coercitiva de ser ouvido? De que maneira eu era único? Pois, se não fosse único, então seria como acrescentar um zero a uma incalculável cifra astronômica."

Henry Miller, Nexus

Monday, July 12, 2010

bluebird

there's a bluebird in my heart that
wants to get out
but I'm too tough for him,
I say, stay in there, I'm not going
to let anybody see
you.

there's a bluebird in my heart that
wants to get out
but I pur whiskey on him and inhale
cigarette smoke
and the whores and the bartenders
and the grocery clerks
never know that
he's
in there.

there's a bluebird in my heart that
wants to get out
but I'm too tough for him,
I say,
stay down, do you want to mess
me up?
you want to screw up the
works?
you want to blow my book sales in
Europe?

there's a bluebird in my heart that
wants to get out
but I'm too clever, I only let him out
at night sometimes
when everybody's asleep.
I say, I know that you're there,
so don't be
sad.
then I put him back,
but he's singing a little
in there, I haven't quite let him
die
and we sleep together like
that
with our
secret pact
and it's nice enough to
make a man
weep, but I don't
weep, do
you?


charles bukowski

dot

"- Talvez você tivesse razão acerca de eu ser mais generoso comigo mesmo. Trata-se sem dúvida de um pensamento repousante. Dentro sou todo vigas de aço. Tenho de me derreter, adquirir fibras, cartilagens, linfa e músculos. Pensar que alguém conseguisse se tornar assim tão rígido... Ridículo, puxa! Eis o que resulta de se lutar com a vida.
Parou o necessário para tomar um grande gole, depois prossegiu.
- Você sabe, não existe no mundo uma só coisa digna de se lutar por ela, exceto a paz de espírito.


















No amor puro (que sem dúvida não existe absolutamente, exceto em nossa imaginação)", diz alguém que eu admiro, "o doador não percebe que ele nem dá do que dá, nem a quem dá, e ainda menos, se isso é apreciado ou não pelo recebedor."
De todo o meu coração eu digo "D'accord!" Mas nunca encontrei um ser capaz de expressar tal amor. Talvez apenas os que já não tem necessidade de amor possam aspirar a semelhante papel.
Estar livre da servidão do amor, apagar-se como uma vela, derreter-se de amor, fundir-se com o amor - que felicidade! É possível a criaturas como nós, fracas, orgulhosas, vãs, possessivas, invejosas, ciumentas, obstinadas, rancorosas? Obviamente não. Para nós, a corrida de ratos - no vácuo do espírito. Para nós, a ruína, a ruína eterna. Julgando necessitarmos de amor, cessamos de dar amor, cessamos de ser amados.
Mas mesmo nós, desprezivelmente fracos como somos, experimentamos ocasionalmente um pouco desse amor verdadeiro, desinteressado. Quem de nós não disse a si mesmo, na sua cega adoração de alguém além do seu alcance: "Que me importa que ela nunca seja minha! Só me interessa que ela exista, que eu possa venerá-la e adorá-la para sempre!" E embora insustentável essa opinião exaltada, o amante que assim argumenta pisa chão firme. Ele conheceu um momento de amor puro. Nenhum outro amor, por mais sereno e duradouro, se lhe pode comparar.
Transitório como possa ser esse amor, pode-se afirmar ter havido uma perda? A única perda possível - e como o verdadeiro amante a conhece bem! - é a falta daquela afeição imperecível que o outro inspirou. Que dia insípido, fatídico, o dia em que o amante percebe, de súbito, que já não está possuído, que está curado, a bem dizer, do seu grande amor! Quando a ele se refere, mesmo inconscientemente, como uma "loucura"! A sensação de alívio engendrada por semelhante despertar talvez leve alguém a crer com toda sinceridade haver reconquistado a liberdade. Mas a que preço! Que liberdade mais escassa! Não é uma calamidade fitar-se uma vez mais o mundo com os óculos de cada dia, com a sabedoria do cotidiano? Não é de dor no coração encontrar-se cercado de seres familiares e comuns? Não é alarmante pensar que se deve prosseguir vivendo, conforme dizem, mas com pedras na barriga e seixos na boca? Encontrar cinzas, nada mais do que cinzas, onde outrora havia sóis ardentes, milagres, glórias, milagres sobre milagres, glória atrás de glória, e tudo livremente criado, como se proveniente de uma fonte mágica?
Se existe algo que se presta a ser chamado de miraculoso, não é o amor? Que outra força, que outro poder misterioso capaz de revestir a vida de inegável esplendor?"

Henry Miller, Nexus

Comprei essa edição de '68, então caso eu coloque um acento errado, ignore, pois estou lendo coisas lindas como "êle" o tempo todo. Vale a pena ler esse trecho sobre o amor mais de uma vez. É impossível não concordar com o que foi dito. Não se vive assim, mas já experimentei. Agora só falta reconquistar a pseudo liberdade.

Sunday, July 11, 2010

pago a dose e vou embora














"Meus modos, por vezes abomináveis, podem ser meigos. Virei um bêbado enquanto envelhecia. Por quê? Porque gosto do êxtase da mente.
Sou um Desgraçado.
Mas amo o amor."

Jack Kerouac, Satori em Paris

Thursday, July 08, 2010

sem mais laranjas.

"É a pessoa de quem você mais quer ter notícias a que nunca se dá ao trabalho de escrever. A complacência, se é este o caso, ou a indiferença de tais indivíduos é irritante; algumas vezes, pode deixar a pessoa frenética. Essa sensação de frustração pode, e isto de fato acontece, persistir até que, descobrimos que não estamos sozinhos, não estamos isolados, e não é importante receber uma resposta. Até despertar a consciência de que tudo o que importa é dar, e dar sem pensar em retribuição.
Algumas pessoas de quem inutilmente esperei uma resposta descobri, mais tarde, que estavam na mesma situação difícil na qual agora me encontro. Como seria maravilhoso, se eu soubesse disso na ocasião, ter escrito e dito: "Não se preocupe em responder. Simplesmente, queria que soubesse o quanto me sinto grato a você por estar vivo e espalhando criação." Hoje, ocasionalmente, recebo eu mesmo tais mensagens. Esse é o caminho do amor, que usa a linguagem da fé e do perdão.
Por que, então, não paro de pensar naqueles que exercem pressão em cima de mim? Por causa de minha própria fraqueza, provavelmente. Poderia haver esse sentimento de pressão, se eu tivesse a certeza de que me dou inteiro?"

Henry Miller, Big Sur e as Laranjas de Hieronymus Bosch


















Me sentei às onze da noite e fui dormir às três da manhã, mas terminei o livro. Nunca li por tantas horas seguidas e não faço idéia do que me motivou, quando eu percebi o tempo já tinha passado. O início dessa obra me empolgou bastante, li compulsivamente, mas depois chegou um ponto que eu achei tudo chato, cansativo, monótono, onde ele descreveu pessoas aleatórias em detalhes, sempre elogiando, então pensei que o caso estava perdido. Porém, ao chegar na terceira parte (o livro é todo dividido, inclusive ele comenta que não importa a ordem que se leia, se entenderá igualmente) e depois no epílogo, a coisa mudou de rumo e eu nem senti que estava lendo. Além de falar sobre o meu signo (não entendo nada, mas se é o meu, devo pelo menos considerar) e contar uma história absurda de um "amigo" parasita, finaliza comentando sobre como era difícil lidar com a situação de recaber milhares de cartas com pedidos de ajuda literária, conselhos, dúvidas, buscando opinião etc. Pretendo contar o que isso tem a ver com a minha vida, logo mais. Como eu sempre digo, nada é por acaso.

I won't say your name
But you know who you are
I'll never be the same again now - no way
I just want to say
Thank you for playing the way you play

someday in january

O final de Big Sur e as Laranjas de Hieronymus Bosch tocou em dois pontos que eu me identifico muito e o primeiro vou postar agora: ser de Capricórnio. 

Filósofos. Inquisidores. Feiticeiros. Eremitas. Coveiros. Mendigos.
Profundidade. Solidão. Angústia.
Abismos. Cavernas. Lugares abandonados.

Graves. taciturnos, fechados. Amam a solidão, tudo que é misterioso, são contemplativos.
São tristes e pesados. Nasceram velhos.
Vêem o ruim antes do bom. A fraqueza em tudo salta imediatamente aos seus olhos.
Penitência, arrependimentos, perpétuo remorso.
Prendem-se à lembrança dos danos que lhe foram causados.
Riem raramente, ou nunca; quando o fazem, é uma risada sardônica.
Profundos, mas indigestos. Desabrocham devagar e com dificuldade.
Obstinados e perseverantes. Trabalhadores infatigáveis. Aproveitam-se de tudo para acumular ou progredir.
Insaciáveis em seu desejo de conhecimento. Empreendem projetos de longo curso. Dados ao estudo de coisas complicadas e abstratas.
Vivem em vários níveis, ao mesmo tempo. Podem ter vários pensamentos juntos.
Iluminam apenas os abismos.

Monday, July 05, 2010

unknown road

"Aqueles que fazem mais do que lhes pedem nunca se esvaziam. Só os que temem dar são enfraquecidos pela doação. A arte de dar é um negócio inteiramente espiritual. Neste sentido, dar tudo de uma pessoa não faz sentido, pois não há limite, quando se fala da verdadeira oferta."















"Eu poderia apresentar intermináveis exemplos dessas coincidências ou "milagres", como os chamo livremente, que se acumulam em minha vida. Os números, porém, nada significam. Se apenas um tivesse ocorrido, teria a mesma validade impressionante. Na verdade, o que me deixa mais perplexo do que quase qualquer outra coisa, nas questões humanas, é a habilidade do homem para ignorar ou fugir de eventos ou acontecimentos que não se enquadram em seu modelo de pensamento, em sua lógica inquestionável. A esse respeito, o homem civilizado é exatamente tão primitivo, em suas reações, quanto o chamado selvagem. O que ele não pode explicar, recusa-se a olhar diretamente. Evade-se à questão empregando palavras como acidente, anomalia, fortuito, coincidência etc.
Mas cada vez que "isso" acontece, ele fica abalado. O homem não está à vontade no universo, apesar de todos os esforços de filósofos e metafísicos para fornecer um xarope calmante. O pensamento ainda é um narcótico. A questão mais profunda é o porquê. E é proibida. O próprio perguntar está na natureza da sabotagem cósmica. E o castigo são - as aflições de Jó.
Todos os dias da nossa vida somos presenteados com evidências da imensa e complicada interligação existente entre os acontecimentos que regem nossas vidas e as forças que dirigem o universo. Nosso medo de aprofundar os relâmpagos de insight que elas provocam é de chegar, talvez, a saber o que "acontecerá" conosco. Sabemos com certeza desde o nascimento que morreremos. Mas mesmo isso achamos difícil de aceitar, por mais certo que seja."


"A questão é - para onde queremos ir? E, queremos levar conosco nossa bagagem ou viajar desimpedidos? A resposta à segunda pergunta está contida na primeira. Para onde quer que vamos, devemos ir nus e sozinhos. Devemos, cada um de nós, aprender que ninguém mais pode nos ensinar. Devemos praticar o ridículo, para tocar o sublime.
Quem pode dizer quais são, realmente, as necessidades do outros? Ninguém pode de fato ajudar o outro, a não ser insistindo com ele para que se mova adiante. Algumas vezes, a pessoa deve mover-se sem se mexer do lugar. Desligar-se dos seus problemas, essa é a idéia. Por que tentar resolver um problema? Esqueça-se dele!"

Henry Miller, Big Sur e as Laranjas de Hieronymus Bosch

Friday, July 02, 2010

triste, mas real.

Assisti "Jack Kerouac - King of the Beats" e digo o seguinte: tudo faz sentido. Primeiro me sinto feliz por ter terminado de ler Cidade Pequena, Cidade Grande antes de ver o documentário, porque o livro é praticamente narrado ao longo da filmagem. É antigo, curto, não tem muita riqueza de detalhes, mas acho válido pra quem já leu parte da obra dele. Quando falam sobre a época que ele viveu em Big Sur, a decadência e o alcoolismo, é bem impressionante. Nota-se tudo lendo o livro, porém, ver as pessoas que conheciam ele comentar soma bastante à essa impressão anterior. Certamente, antes de estourar On the Road, Jack se perguntou "onde eu me encaixo?". A resposta não veio com o sucesso, nem com o isolamento. Uma pena. Grande homem.

Thursday, July 01, 2010

accident prone

"Estamos sempre em dois mundos ao mesmo tempo, e nenhum deles é o mundo da realidade. Um é o mundo onde pensamos que estamos, o outro é o mundo onde gostaríamos de estar. De vez em quando, como se fosse através de uma fresta na porta - ou como o míope que adormece no trem -, obtemos uma rápida visão do mundo permanente. Quando fazemos isso, sabemos, mais do que qualquer metafísico pode demonstrar, a diferença entre verdadeiro e falso, real e ilusório."

Henry Miller, Big Sur e as Laranjas de Hieronymus Bosch


















What's the furthest place from here?
It hasn't been my day for a couple years.
What's a couple more?