Wednesday, June 08, 2011

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Se não me opus à amante, foi porque de todos os poderes que alguém pode exercer sobre outrem, somente o seu, incoercível, parecia-me correto. Abandonado como estou, não era meu desejo evitá-la; anseio, porém, por atravessá-la! Que ela seja uma janela para o mundo ampliado da existência... (não um espelho.)

xxx

Não posso escapar de mim mesmo. Pois se eu desistisse de tudo, tudo, e me atirasse cegamente a teus braços, como por vezes desejo, e aí me perdesse, tearias contigo alguém que houvera desistido de si mesmo: não seria a mim que terias, não a mim.
Não sou capaz de dissimular e me transformar. Exatamente como na minha infância, diante do violento amor de meu pai, ajoelho-me no mundo e peço indulgência àqueles que me amam. Sim, que me poupem! Que não me consumam para sua própria felicidade, mas me assistam a fim de que se desenvolva em mim aquela felicidade mais funda e solitária. Sem a grande demonstração dessa felicidade, por fim, não me haveriam de ter amado.

Rainer Maria Rilke, O Testamento

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