Sunday, June 20, 2010

sal paradise

i don't know anything but the word is getting around, 
there's trouble in paradise, your heart is gonna pay the price


Quando eu digo que nada é por acaso, falo sério. Ontem encontrei uma pessoa que eu não sabia que conhecia (amnésia alcoólica) e o comentário foi "eu insistia pra saber o teu nome e tu só dizia PARADISE, PARADISE". Acordo hoje e começo a ler meu guru, Henry Miller. Eis que me deparo com isso:

"Como é elucidativa essa atitude quanto à deplorável resignação à qual sucumbem homens e mulheres! Claro que todos percebem, a certa altura, ao longo do caminho, que poderiam levar uma vida muito melhor do que aquela que escolheram. O que impede isso, em geral, é o medo dos sacrifícios necessários. (Mesmo abandonar as correntes que os prendem parece um sacrifício.) Mas todo mundo sabe que nada é realizado sem sacrifício.
O anseio por um paraíso, na terra ou no além, quase parou de existir. Em vez de idée-force, tornou-se idée-fixe. De mito potente, degenerou em tabu. Os homens sacrificam suas vidas para tornar o mundo melhor - seja lá o que entendam por isso -, mas não movem uma palha para alcançar o paraíso. Tampouco lutam para criar um pouquinho de paraíso no inferno onde se encontram. É tão mais fácil, e mais sangrento, fazer uma revolução, o que significa, em termos simples, estabelecer outro status quo, só que diferente. Se o paraíso fosse realizável - está é a réplica clássica! -, não seria mais paraíso.
O que se poderá dizer a um homem que insiste em construir sua própria prisão?
Há um tipo de indivíduo que, após encontrar o que ele considera um paraíso, começa a botar defeitos nele. No final, o paraíso desse homem se torna ainda pior do que o inferno do qual ele fugiu.
Sem dúvidas, o paraíso, seja lá qual for, tem defeitos (defeitos paradisíacos, podemos dizer assim). Se não tivesse, seria incapaz de atrair os corações dos homens ou dos anjos.
As janelas da alma são infinitas, dizem-nos. E é através dos olhos da alma que o paraíso é visionado. Se há falhas em seu paraíso, abra mais janelas! A visão é, inteiramente, uma faculdade criativa: usa o corpo e a mente como o navegador usa seus instrumentos. Aberta e alerta, pouco importa se alguém descobre um suposto atalho para as Índias ou se descobre um novo mundo. Tudo pede para ser descoberto, não por acaso, mas intuitivamente. Procurando intuitivamente, o destino de uma pessoa jamais está num além do tempo ou do espaço, mas sempre aqui e agora. Se estamos sempre chegando e partindo, é também verdade que estamos eternamente ancorados. Nosso destino não é nunca um lugar, mas sim uma nova maneira de olhar para as coisas. E isso significa que não há limites para a visão. Da mesma forma, não há limites para o paraíso. Qualquer paraíso digno desse nome pode sustentar todas as falhas da criação e continuar com sua grandeza, impoluto."

Henry Miller, Big Sur e as Laranjas de Hieronymus Bosch

Aproveito o que foi dito sobre estar sempre chegando e partindo e repito um trecho do genial Waking Life que já postei por aqui: The sea refuses no river. The idea is to remain in a state of constant departure while always arriving. It saves on introductions and goodbyes. The ride does not require explanation - just occupance.

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