"...eu nunca te disse, mas caminhando na ponta dos pés até a tua casa, curtindo a rua, curtindo as indicações disponíveis do que tá rolando na tua casa a uma quadra de distância (na verdade entendendo numa miríade de pensamentos rápidos tudo o que eu sinto enquanto a casa se ergue à minha frente e ativa tudo ao redor dela, no bolso da camisa os caderninhos se batendo), avançando pouco a pouco até bater na porta que vai ser exatamente como naquelas tardes de verão quando eu fingia que tava morrendo de sede no deserto mas um árabe hospitaleiro me levava até a tenda dele e colocava um copo de água gelada na minha frente, mas dizia "Você só poderá beber se a sua fortaleza e os seus homens se renderem, e terão que se render de joelhos, implorando" e eu aceito, curvo a cabeça numa grande agonia heróica mas vendo o copo, as gotinhas na borda enfumaçada, o gelo estalando, e me avançando em direção a ele, pondo a borda devagar nos lábios, a bebida proibida, o momento exato do primeiro gole e de apreciar a água pura e simples, nossa, uau, você sabe como é, e é assim que eu vou bater na sua porta que não é uma porta qualquer."
trecho da carta para cody.
Jack Kerouac, Visões de Cody
Friday, February 05, 2010
Subscribe to:
Post Comments (Atom)
No comments:
Post a Comment